A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) trata o caso de um pai que agrediu um estudante da Escola Apolinário Alves dos Santos, em Caxias, como lesão corporal, delito com pena que varia de três meses a um ano de prisão. Em casos assim, se há condenação na Justiça, a privação da liberdade geralmente é substituída pelo pagamento de cestas básicas ou prestação de serviços comunitários.
Gilberto Freitas Couto, 30 anos, pai de uma aluna da instituição, agrediu Paulo Henrique Darabas Bitencourt, 17, com uma corrente na segunda-feira. O homem invadiu o colégio para exigir a retomada das aulas na escola, que está ocupada por alunos desde o dia 18 de maio. Além da Apolinário, estudantes montaram acampamento na Cavalheiro Aristides Germani, na Cristóvão de Mendonza, na Henrique Emilio Meyer e na Escola Estadual Técnica Caxias do Sul (EETCS).
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Aluno do terceiro ano do ensino médio, Bitencourt conversou com a reportagem sobre a agressão. Ele participa da ocupação e afirma que tentou inúmeras vezes conversar com Couto. Ao Pioneiro, explicou que a escola estava trancada apenas para evitar a entrada da diretora, Marili Rigon Zandoná, que havia registrado um boletim de ocorrência no início da semana contra os alunos.
– No início, tínhamos uma relação boa com ela. Isso terminou quando ela disse que não estávamos fazendo nada dentro da escola. Estamos promovendo debates, oficinas e lutando pelos nossos direitos. Na segunda colocamos o cadeado e decidimos que somente alunos e professores grevistas vão entrar.
A diretora confirmou que registrou queixa na polícia contra os alunos, mas disse que não brigou com nenhum deles:
– Eles pediram para entrar na secretaria da escola e isso foi negado. Na segunda, o alarme soou e eu tive que ir lá. Sou a responsável pela instituição, estou sendo até bem calma com eles. Depois disso, não tive mais contato com quem está lá.
Confira trechos da entrevista com o aluno agredido:
Pioneiro: O que aconteceu na manhã de segunda na escola?
Paulo Henrique Darabas Bitencourt: Estávamos aqui dentro, alunos e uma professora. O portão estava fechado. Eu estava abrindo o portão para alguns alunos entrar. Eles entraram e, quando estávamos fechando de novo, ele (Couto) apareceu e chutou o portão. Ele não conseguiu abrir porque estava com a trava, mas segurou a corrente que estava com o cadeado. Nisso eu me afastei. Ele me olhou e falou "abre essa p*". Ele estava visivelmente nervoso. Ele conseguiu abrir o portão e, com a corrente e o ferro na mão, falou alto: "quem vai me impedir de entrar agora?". Respondi: "calma, a gente pode conversar?". Nesse momento, ele me deu uma cabeçada, tenho até a marca no queixo. Eu recuei e ele me deu uma correntada no braço.
Ele foi atrás de ti?
Ele veio para cima, me fechou no estacionamento e eu não tinha para onde correr. Uma professora ligou para a polícia nesse momento, mas eles falaram que não tinham viatura suficiente. Ele me deu mais três correntadas e depois consegui escapar. Ele foi para perto das escadas onde tinha mais alunos, que se amedrontaram e se juntaram. Ele falava: "são um monte de vagabundos, não querem fazer nada, merecem apanhar". E seguia em direção aos alunos.
Alguém foi para cima dele?
Ninguém. Ele estava com uma corrente e um ferro na mão, o que eu ia fazer contra ele? Falei inúmeras vezes que queria conversar. Ele só dizia "quem vai pagar meu prejuízo?".
Vocês tentaram conversar com ele?
Sim, desde quando ele tentou entrar na escola. Pedia toda hora para ele se acalmar, mas ele estava muito agressivo. Ele explicou por que estava agindo daquela forma?Sim, ele falou, mas não deixou eu responder. Disse que estava desempregado e que não tinha ninguém para cuidar da filha dele.
Se ele tivesse deixado, o que tu terias respondido?
Diria que a escola está aberta para todo mundo. Nós nunca proibimos os alunos de entrar. Até gostaríamos que mais alunos entrassem aqui. Temos alunos maiores de idade aqui dentro que ajudam a cuidar dos pequenos. Temos oficinas o dia inteiro. Ele poderia ter trazido a filha dele, a gente cuidaria dela aqui dentro.
Algum outro pai já tinha tentado com os filhos?
Não. Alguns vieram falar conosco, estamos aberto ao diálogo. Mas acho que muitos tentaram falar com a diretora e ela disse que nós estamos "vagabundeando" aqui dentro. Tu foi até a polícia depois de ser agredido?Sim, fiz um boletim de ocorrência e exame de corpo de delito.
Hoje tu entende o pai?
Entendo em partes, mas não era preciso fazer o que ele fez. Tentei conversar, mas ele não quis. Ele partiu direto para agressão.
Se tu encontrasse ele hoje, o que tu dirias?
Que ele agiu muito errado. Ele poderia ter tentado conversar. Não tem explicação o que ele fez. Se ele tivesse conversado, teríamos resolvido tudo no início.
Tu achas que errou em algum momento?
Acho que não. Não agredi ele. Só quis conversar.
Tu pensas em processá-lo?
Não pensei sobre isso ainda.
Qual é o pedido de vocês?
Melhorias no ensino e nas condições da escola. Temos ratos aqui. Não adianta a gente ficar acomodado esperando que as coisas aconteçam. Estamos esperando uma resposta do governador. Vamos ficar aqui até quando for preciso. Não dá para continuar do jeito que está.
Teus pais te apoiam?
Sim, ele sempre disse que a nossa geração é acomodada, que precisamos agir.
Couto falou ao Pioneiro na segunda-feira: