Depois de ser dedilhado por hóspedes famosos, um piano que pertencia ao mobiliário do hotel Sheraton em Porto Alegre ganhou um destino que está mudando vidas no Bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste. Há quase dois anos, a chegada dele ao Instituto Popular de Arte-Educação (Ipdae), localizado na Parada 18 do bairro, deu a possibilidade de criação da primeira classe de aprendizes do instrumento na instituição.
Hoje, 21 crianças e adolescentes deslizam os dedos pelo mesmo Essenfelder – nome da fábrica de pianos fundada pelo alemão Florian Essenfelder, em Curitiba, em 1890 e que fechou em 1996 – que pode ter sido tocado, inclusive, por Madonna, na passagem da estrela da música por Porto Alegre em 2012.
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A cantora foi hóspede da suíte presidencial onde o instrumento estava instalado. Com a reforma do espaço, o piano deixou de ter serventia no estabelecimento. Foi então que se decidiu pela doação ao projeto social.
Pelos corredores do Ipdae, inclusive, o piano de armário ganhou o carinhoso apelido de "piano da Madonna". Mesmo que o hotel não confirme o uso dele pela cantora, a lenda espalhou-se e dá orgulho para quem passa horas aprendendo as partituras de Frédéric Chopin, Johann Sebastian Bach, Claude Debussy e Wolfgang Amadeus Mozart.
A estudante do segundo ano do ensino médio Bárbara Auler, 15 anos, é das que mais usa o espaço. A possibilidade de aprender gratuitamente os segredos do piano, instrumento que sempre admirou, levou Bárbara a sonhar mais alto: quer ingressar no curso de Música da Ufrgs. Ela faz parte da primeira turma de futuros pianistas do Ipdae e frequenta o instituto até aos sábados para ter mais horas em frente ao piano.
– Não tenho condições de comprar um piano para ter em casa. Então, aproveito cada segundo que posso. Não me vejo fazendo outra coisa no futuro – garante Bárbara, fã de rock antes de conhecer a música clássica.
Com as orientações da professora de piano Pâmela Ramos, Bárbara e os colegas Tiago da Silveira Cruz, 13 anos, Giovanna Resin, 14 anos, e Manoela Rosa Scheibler, 13 anos, descobriram sons que vão além da guitarra das bandas de rock, ritmo mais ouvido pelos quatro adolescentes.
– A música clássica me mostrou um caminho que eu não conhecia. Hoje, não sei mais viver sem piano. Ele já faz parte da minha vida – sustenta Giovanna, que faz aulas desde a chegada do instrumento.
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Transformador de vidas
Para a diretora e fundadora do Ipdae, Fátima Flores, a doação do piano foi determinante para a criação da turma. Produzido com madeira maciça, o instrumento pode custar até R$ 10 mil, dinheiro que a instituição não tem disponível pois vive de doações e de convênios.
O Ipdae atende gratuitamente a 240 alunos, dos sete aos 22 anos, em cursos de violoncelo, violino, contrabaixo, piano, flauta transversa, flauta doce, prática vocal, teoria e percepção musical e canto. Todos com duração de oito anos.
– É claro que, se a Madonna o tocou, nos dá ainda mais orgulho. Mas o mais importante é a função social deste instrumento. Ele está transformando vidas que, talvez, jamais tivessem a chance de se aproximar da música clássica – acredita Fátima.
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