Com duas mesas instaladas no meio da Rua Rocco Aloise, entre a Rua Francisco Pinto da Fontoura e a Avenida Maria Joséfa da Fontoura, no Bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre, os cinco conselheiros tutelares da Micro 2, apoiados pelos colegas de outras microrregiões da cidade, estão hoje prestando atendimento a céu aberto. A ação faz parte de um protesto pelos três meses sem prédio para atendimento dos 6 mil expedientes de atendimento abertos pelo Conselho Tutelar da Micro 2. As mobilizações deverão ocorrer até que a Secretaria Municipal de Governança Local ofereça um novo endereço para atendimento.
Desde o início de fevereiro deste ano, quando o Arroio Sarandi transbordou e invadiu as 12 salas do prédio da Micro 2, numa enchente que durou uma semana, a rotina da segunda maior microrregião da Capital – responsável por cerca de 30 atendimentos diários – foi alterada. Pelo menos 44 gavetas de arquivos acabaram atingidas pelas águas misturadas ao esgoto e à lama, comprometendo 2 mil dos 6 mil expedientes. Em três anos, foram seis inundações no prédio que pertence à prefeitura.
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Sem local, os conselheiros ficaram até a semana passada atendendo provisoriamente numa sala da Micro 10, no Centro Vida, no Bairro Rubem Berta. Porém, a partir de hoje, estão sem espaço definitivo, já que o prédio onde atuavam foi interditado até passar por nova avaliação.
– É impossível prestar um serviço de qualidade para as famílias, são casos delicados e que precisam de sigilo no tratamento. A Micro 1, do Bairro Humaitá, disponibilizou uma sala, mas as famílias, que são carentes, teriam que pegar ônibus. O mesmo ocorre se eles (Micro 2) atenderem na sede do Conselho, na área central da cidade. O queprecisamos é de uma solução definitiva – afirma o coordenador geral dos conselhos de Porto Alegre, Marcelo Bernardi.
Na tentativa de salvar a papelada encharcada, pois não há digitalização dos documentos, os conselheiros optaram por espalhar cordas na antiga sede e pendurar o que sobrou dos arquivos. Mais de três meses depois, a equipe segue analisando os expedientes para saber os que ainda têm condições de uso. Quem permanece por mais tempo na sala dos arquivos acaba se incomodando com o ar abafado e malcheiroso, que faz a garganta arder.
– Foi a maior enchente, com mais de 1m de água dentro do prédio. Quando voltamos, percebemos o tamanho do estrago. Não há mais condições de trabalhar no local – garante Dante Cariello, conselheiro em segundo mandato.
Na manhã desta segunda-feira, a diarista Mirivone Silva de Oliveira, 48 anos, buscou o auxílio dos conselheiros, e os apoiou no protesto._ Estes três meses que o nosso conselho ficou em outra área da cidade prejudicaram os mais carentes, que não tinham como ir até lá. Em alguns bairros, como o nosso, muitas famílias buscam apoio e orientação no conselho da região – comentou.
Governança promete prédio
Ciente da situação dos conselheiros do Sarandi, o secretário adjunto de Governança Local, Carlos Siegle de Souza, reconhece que a situação se arrasta por mais tempo do que deveria. Segundo ele, o prédio anterior da Micro 2 não tem mais condições de ser utilizado por estar numa área inundável.
Depois da enchente, a secretaria iniciou o processo de licitação para elaboração de um estudo sobre o que deve ser feito com a estrutura. Pelo menos, quatro prédios passaram por avaliação neste período. Um deles, cedido para a Brigada Militar e que fica no mesmo bairro, deve ser o novo destino da Micro 2.
– Já temos uma nova área para ser avaliada ainda nesta segunda-feira. Ela pertenceu ao Estado, mas já temos a liberação para usá-la. Fica a 1km do atual prédio e parece em condições de receber a Micro 2. Se tudo der certo, eles se mudam até a próxima semana – garante Carlos.
Diário Gaúcho