A advogada da jovem de 16 anos que foi vítima de um estupro coletivo na zona oeste do Rio de Janeiro vai pedir o afastamento do delegado Alessandro Thiers das investigações. Segundo a advogada Eloísa Samy Santiago, o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) teria conduzido o interrogatório de forma inadequada.
– Ele perguntou à vítima se ela tinha por hábito participar de sexo em grupo – contou.
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A jovem prestou um segundo depoimento à polícia na noite de sexta-feira. Após meia hora de relato, começou a chorar e a se dizer envergonhada, o que levou a polícia a interromper os trabalhos. Segundo a advogada, o episódio foi antes da pergunta em questão.
Além de Thiers, participaram do interrogatório a delegada Cristiana Bento, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV), e um inspetor de polícia da DRCI, que é psicólogo, de acordo com a advogada. Cristiana e o inspetor tiveram um comportamento exemplar, ao contrário de Thiers, disse Eloísa.
A advogada afirmou que está tentando contato com a Promotoria da Infância e da Juventude e não descarta outros meios de representar contra o delegado.
– O depoimento teria sido muito mais produtivo sem ele – disse.
Procurada, a Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.
No primeiro depoimento, ainda na madrugada de quinta-feira, a adolescente contou que foi visitar o namorado no sábado no Morro da Barão, na Praça Seca, zona oeste carioca, e só se lembra de ter acordado no dia seguinte, "dopada e nua", em uma casa desconhecida e cercada pelos agressores. Só soube na terça-feira que um vídeo com imagens suas após o estupro circulava nas redes sociais e em sites de relacionamento.
Foi a divulgação do vídeo que despertou a atenção das autoridades e que levou à distribuição do caso para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).
Na tarde de sexta-feira, os delegados Alessandro Thiers e Cristiana Bento concederam entrevista coletiva à imprensa ao lado do chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso. Durante a entrevista, o caso chegou a ser tratado pelos delegados como "suposto estupro", e Thiers declarou que a polícia havia diversas linhas de investigação, inclusive para verificar "se houve ou não estupro". O chefe de Polícia esclareceu depois que a polícia trabalha com indícios.
– Há indícios veementes de que houve estupro, mas não podemos afirmar ainda se houve ou não, ou de que forma houve. Não podemos nos basear no "ouvi dizer". Só o exame de corpo de delito vai apontar se houve estupro ou não. O laudo pode trazer uma certeza ou uma dúvida. Pode demandar outra diligência para sanar uma dúvida que surge no próprio laudo – disse Veloso.
Apesar de, até sexta-feira, quatro suspeitos terem sido identificados, a polícia não pediu a prisão de nenhum deles. Na noite desta sexta, o secretário estadual de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, justificou que faltava um "detalhe jurídico".
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* Estadão Conteúdo