Com a taxa de desocupação atingindo 10,7% em março, Porto Alegre e Região Metropolitana chegam ao maior patamar de desemprego para o período desde 2009. Enquanto os números compõem um cenário pessimista neste Dia do Trabalhador, o Diário Gaúcho conta histórias de quem se reinventou e que está se reinventando após ser surpreendido pela demissão.
Não deixar que a baixa autoestima abale o recomeço profissional foi o mérito de Rafael Hermann, de Guaíba, e de Mirta Jaqueline Dornelles de Oliveira, 42 anos, do Morro da Polícia, em Porto Alegre. Após ser dispensado da função de supervisor que exerceu durante dois anos em uma empresa de celulares na Capital, Rafael Hermann, provocou uma mudança de vida que ele jamais imaginava.
Passado o choque da notícia, ao invés de tentar se recolocar no mercado, apostou no empreendedorismo e investiu na produção de churros gourmet. Incentivado pela esposa, a produtora de eventos Luana Lorensini, 31 anos, usou o dinheiro da rescisão para investir no novo negócio: comprou carrinho adaptado, matéria-prima e patenteou a própria marca.
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Três meses depois da demissão, ele estreou a novidade, em dezembro do ano passado, em um espaço alugado no estacionamento de um supermercado do Centro de Guaíba.
– Nenhum de nós dois sabíamos fazer churros. Eu aprendi sozinho, vendo receitas na internet. Coloquei muita massa fora até acertar o ponto, mas hoje acredito que a massa é meu diferencial – avalia Rafael.
O empreendedorismo tem sido usado como uma das alternativas para contornar as dificuldades do momento econômico. É o que mostra uma pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, patrocinada pelo Sebrae no Brasil. Em 2014, a taxa de empreendedorismo no país foi de 39,3%, o maior índice dos últimos 14 anos e quase o dobro do registrado em 2002, quando a taxa era de 20,9%.
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E o espírito empreendedor, que Rafael nem suspeitava que tinha, já tem dado resultados. Com oito variedades de churros, conseguiu tirar o valor investido nos primeiros 40 dias do negócio. Ele foca agora na participação em eventos particulares e públicos. Além de divulgar as delícias, usa as redes sociais para publicar a agenda semanal com a localização do carrinho.
– Já queremos comprar mais um carrinho, adaptado para o inverno, e inovar fazendo churros salgados – conta ele, cheios de planos para o futuro.
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Hobby pode virar fonte de renda
Aceitar que, ao sair de um emprego, uma fase da vida se encerra e outra começa, é fundamental, orienta a psicóloga e consultora de carreira Deisy Razzolini. Segundo ela, a sensação de estar ativo é o necessário para melhorar a autoestima. Com esse pensamento, Mirta Jaqueline Dornelles de Oliveira, 42 anos, está enfrentando a demissão, que ocorreu há um mês.
Ela trabalhava havia dois anos como assistente de faturamento em uma clinica de diagnóstico por imagem quando foi dispensada.
– Não esperava, foi um baque, de uma hora para outra. O primeiro pensamento é como fazer para pagar todas as contas. Em casa, já reduzi muitos gastos – lembra Mirta, que vive com o filho, Eduardo, 24 anos, que trabalha como assistente financeiro.
Foi nos pontos de crochê e tricô que a moradora da Capital encontrou uma forma de ocupar a cabeça e não deixar a peteca cair. Ela não se vê parada nenhum dia sequer. Agora, empenha-se para que o hobby vire uma fonte de renda que complemente o seguro-desemprego.
Mirta investiu em novelos e agulhas para fazer conjuntos de crochê para enfeitar a casa e peças de inverno em tricô como meias, toucas e cachecóis.
– Pretendo vender para amigos e vizinhos – afirma.
Mesmo com o lado emocional abalado, é preciso se organizar para fazer um planejamento do que pode dar certo, ensina o gerente da regional metropolitana do Sebrae, Paulo Bruscato.
– É importante anotar no papel um pouco da perspectiva do que se quer, no mínimo a curto prazo, para ter um fôlego inicial. Às vezes, se tem um produto bom na mão, mas ele não está conectado com a necessidade das pessoas. É preciso também criar um diferencial competitivo – aconselha.