A Operação Lava-Jato voltou à ativa, após semanas de hibernação. O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta quinta-feira a condenação do publicitário João Santana, de sua esposa, Mônica Moura, executivos da construtora Odebrecht e doleiros envolvidos em lavagem de dinheiro. Entre os fatos considerados mais graves pelos procuradores da República está a criação de um "Setor de Operações Estruturadas", na empreiteira, que seria destinado com exclusividade ao pagamento de propinas. Entre os denunciados está Marcelo Odebrecht, que atuava até o início deste ano como presidente da empresa.
Ao todo foram denunciadas 17 pessoas, em duas denúncias separadas, ambas relacionadas à Odebrecht. Além do casal, foram denunciados Marcelo Odebrecht, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, Zwi Skornicki, Pedro Barusco Filho, Renato Duque,João Vaccari Neto, João Carlos de Medeiros Ferraz,Eduardo Costa Vaz Musa, Luiz Eduardo da Rocha Soares,Fernando Migliaccio da Silva, Maria Lucia Guimarães Tavares, Angela Palmeira Ferreira, Isaias Ubiraci Chaves Santos, Livio Rodrigues Junior e Marcelo Rodrigues.
A principal denúncia apresentada pelo MPF se refere à Operação Xepa, 26ª Fase da Lava-Jato, desencadeada em 22 de março deste ano. Na ocasião foram presas 13 pessoas, das quais nove já foram soltas por decisão do titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, juiz Sérgio Moro, que julga dos casos da Lava-Jato na primeira instância.
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A Xepa foi amparada, principalmente, na colaboração premiada de Maria Lúcia Tavares, que gerenciava as contas paralelas na Odebrecht. Ela afirmou que os pagamentos de propina ocorreram até novembro de 2015, um ano e meio após a deflagração da Operação Lava-Jato. Isso mostra que a Odebrecht, mesmo sob investigação, continuou com atividades ilícitas, ressaltam os procuradores.
Apenas duas contas do Setor de Operações Estruturadas teriam movimentado R$ 91 milhões em repasses de dinheiro supostamente ilícitos. Os pagamentos eram feitos por donos e empregados de casas de câmbio (doleiros).
Entre os beneficiados pelos subornos estariam políticos. Uma lista com mais de 200 nomes de parlamentares que receberam dinheiro da Odebrecht foi encontrada pela Polícia Federal em outra fase da Lava-Jato, a Operação Acarajé, em fevereiro. A relação de beneficiados inclui doações legais e ilegais e, por isso, continua sob investigação. Por se tratar, na maioria, de políticos com foro privilegiado, o material foi enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, que determinou investigação por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Outros dos denunciados nesta quinta-feira são os diretores da Odebrecht Hilberto Silva, (supervisor do Setor de Operações Estruturadas, que viabilizava propinas, segundo o MPF), Luiz Eduardo Soares (do mesmo setor), Fernando Migliaccio, Ubiraci Santos, Ângela Palmeira, Maria Lúcia Tavares (que virou colaboradora da Lava-Jato).
Foi pedida ainda condenação dos irmãos Olívio Rodrigues e Marcelo Rodrigues (lobistas), do também lobista Zwi Scornicki, do publicitário João Santana e sua esposa, Mônica Moura (também colaboradora da Lava-Jato). Os publicitários teriam recebido 40 pagamentos que, segundo os procuradores da República, seriam lavagem de dinheiro destinado ao Partido dos Trabalhadores. O MPF, por fim, pediu também a condenação do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, por lavagem de dinheiro recebido da Odebrecht, via falsos contratos publicitários.
Os procuradores pediram penas elevadas, na denúncia feita nesta quinta-feira, sobretudo porque a Odebrecht é a maior empreiteira brasileira (com 181 mil funcionários) e participa de seis das 10 maiores obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) do governo federal. O neto do fundador da empresa, Marcelo Odebrecht, está preso desde julho de 2015 em Curitiba, por ordem da Lava-Jato, e foi condenado a 19 anos de prisão. Ele era presidente da empreiteira na época.
Em março, logo após a Operação Xepa, a direção da Odebrecht lançou nota oficial, dizendo que orientou seus executivos a colaborarem com a Lava-Jato. Zero Hora consultou procuradores da República e confirmou que essa delação ainda não foi firmada. Um dos motivos seria que um acordo de colaboração poderia quebrar cláusulas de confiabilidade firmadas em contrato pela empreiteira no Exterior. Outra razão é que o MPF quer um acordo completo, que revele atos ilegais da empresa em vários governos - algo que ainda é estudado pelos advogados da Odebrecht.
Num desdobramento da ação desta quinta-feira, o MPF pediu também a condenação de um personagem famoso entre as empreiteiras, o lobista Zwi Scornicki. Engenheiro, com passagens pela Petrobras e pela Odebrecht, ele se especializou em intermediar negócios entre a direção da empresa petrolífera e construtoras. O patrimônio dele cresceu 35 vezes em 10 anos. Ele foi preso em fevereiro, por suspeita de internar no Brasil dinheiro do estaleiro Kepper Fells destinado a propinas para dirigentes da Petrobras e representantes do governo federal.