O corpo da aposentada Rosa Lauter Gonçalves, 74 anos, que morreu depois de ser atingida por parte da estrutura de um prédio no Centro de São Leopoldo, foi enterrado nesta quarta-feira, no Cemitério Municipal Cristo Rei. Ela e a filha Maria de Lourdes Lauter Gonçalves, 53, passavam pelo local na segunda-feira, dia 25, quando foram atingidas pela platibanda – faixa horizontal que emoldura a parte superior de um edifício e que tem a função de esconder o telhado de um prédio – na esquina das Ruas Saldanha da Gama e Presidente Roosevelt.
As duas foram encaminhadas para o Hospital Centenário, mas Rosa não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo na mesma noite. Maria de Lourdes ainda está internada, com suspeita de traumatismo na coluna.
O vigilante Ademilson Lauter Gonçalves, 46 anos, filho da aposentada e irmão de Maria de Lourdes, diz que ainda não acredita em tudo o que aconteceu. Ele chegou a passar no local com a esposa, minutos depois do ocorrido, e viu, de longe, uma senhora deitada no chão, além de várias pessoas em volta.
– Na hora, eu disse para a minha esposa: "Acho que aquela senhora não vai sobreviver". De longe, vi um buraco na cabeça dela. Mas Deus me ajudou, e eu não fui lá ver, porque não ia aguentar – relembra.
Agora, Ademilson só quer justiça para a família. Ele acredita que a prefeitura, a imobiliária que locou o prédio e o proprietário do imóvel são responsáveis pela tragédia.
– Eu vou procurar os meus direitos, e eles não vão se esquecer de mim, porque eu não vou deixar. Eles vão pagar por isso, nem que leve 20 anos – protesta.
O vigilante não esconde a revolta pela falta de apoio à família:
– Duas pessoas me procuraram dizendo ser da imobiliária, e depois, à noite, outro senhor entrou em contato comigo para oferecer ajuda. Mas quando precisei deles e tentei contato, ninguém me atendeu nem me procurou mais.
A reportagem tentou contato com o proprietário da Imobiliária Casabonita, de São Leopoldo, responsável pela locação do imóvel, mas, até o fechamento desta edição, ninguém havia dado retorno.
Ajuda de amigos
Ademilson diz que, sem a ajuda de vizinhos e amigos, não seria possível enterrar a mãe com dignidade. Ele precisou fazer um empréstimo no banco para pagar as despesas e liberar o corpo.
– Como é que se faz, numa hora dessas, se não fosse a ajuda dos amigos? Sinceramente, não sei. Só não queria que ela fosse enterrada como indigente – lamenta.
Vizinha e amiga da família, Maria Amélia Timm, 55 anos, cedeu a gaveta onde está o corpo de sua mãe no cemitério para acolher o caixão de Rosa.
– Ela era como uma irmã para mim e como uma avó para os meus netos. Não sei nem como contar para eles o que aconteceu. Todos a amavam muito. Jamais deixaria que seu corpo ficasse em qualquer lugar – comenta.
O que diz a prefeitura
Diretora de mobilidade urbana da prefeitura, Adriana Osório afirma que o órgão não é responsável pelo ocorrido. Segundo ela, o imóvel não está na lista de preservação de prédios históricos do município e, mesmo que estivesse, esse tipo de manutenção não seria de responsabilidade da prefeitura.
– A cada cinco anos, pedimos um laudo de estabilidade estrutural dos imóveis que possuem marquises projetadas sobre logradouros públicos. Mas a estrutura que caiu em cima das mulheres foi uma platibanda. Não é tarefa da prefeitura fazer esse tipo de vistoria – salienta.
Ainda de acordo com Adriana, desde o incidente, o órgão está tentando contatar o proprietário do imóvel e a imobiliária, para entregar uma notificação e pedir que apresentem o laudo de estabilidade do restante do prédio.
– Mesmo que a responsabilidade não seja nossa, não queremos que isso aconteça novamente. Queremos o laudo para conferir a estrutura de todo o imóvel. O problema é que ainda não conseguimos falar com os responsáveis. Ninguém nos atende – relata.
Perícia deve esclarecer tragédia
A investigação sobre as causas e os responsáveis pelo acidente estão sendo conduzida pelo delegado Heliomar Franco, da 1ª DP de São Leopoldo. Segundo o delegado, que esteve no local, é visível a precariedade do imóvel. Porém, será necessário aguardar o levantamento do Instituto Geral de Perícias (IGP) para confirmar a situação do prédio.
– Qualquer leigo que olhar o prédio percebe que há problemas de estrutura. Mas precisamos de um laudo oficial para juntar com os depoimentos e concluir o caso. De qualquer forma, o inquérito caminha para um indiciamento de homicídio culposo e lesão corporal culposa – afirma.
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* Diário Gaúcho