Uma investigação jornalística internacional sobre um escritório do Panamá especializado em criar empresas em paraísos fiscais expõe desde ontem um megaesquema para esconder dinheiro supostamente ilícito.
Entre os usuários do escritório Mossack Fonseca - que tem filial em São Paulo e também é investigado pela Lava-Jato - estão 12 líderes mundiais, um membro do Comitê de Ética da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e 57 investigados no escândalo da Petrobras.
Entre os alvos de suspeita estaria o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Um rastro de US$ 2 bilhões leva até o líder russo por intermédio de Sergei Roldugin, músico apontado como seu melhor amigo. Roldugin estaria no centro de um esquema pelo qual dinheiro de bancos estatais russos seria escondido em offshores. Um deles seria desviado para um resort de esqui no qual Katerina, uma das filhas de Putin, teria se casado em 2013.
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Embora os documentos não registrem o nome de Putin, há um padrão nas informações listadas: amigos dele obtiveram fortunas que não poderiam ter sido acumuladas sem sua proteção. Os documentos sugerem que a família de Putin beneficiou-se do dinheiro.
Roldugin parece ter sido escolhido para o papel de testa-de-ferro por seu perfil discreto. Ele negou ser próximo de políticos russos em declarações a funcionários de bancos na Suíça e em Luxemburgo. Ainda assim, detém participação de 12,5% na Video International, maior agência russa de publicidade, com receita anual de mais de 800 milhões de libras esterlinas. Também detém 3,2% do Bank Rossiya, de São Petersburgo, submetido a sanções dos Estados Unidos depois da invasão da Ucrânia.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, não quis comentar as suspeitas contra o presidente. Na semana passada, ele disse que agências de espionagem ocidentais estão por trás de um amplo “ataque de informação” contra ele para desestabilizar a Rússia antes das eleições. Peskov desqualificou a investigação como um "ataque de hackers aberto e pago". Acrescentou que a Rússia tem "meios legais" de defender a dignidade e a honra de Putin.
Outros beneficiários seriam o premier do Paquistão, Nawaz Sharif, o ex-vice-presidente do Iraque Ayad Allawi, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, o executivo egípcio Alaa Mubarak, filho do ex-ditador Hosni Mubarak, e o premier islandês, Sigmundur Gunnlaugsson. O atacante Lionel Messi, do Barcelona, também teria usado serviços da Mossack Fonseca.
A apuração internacional começou quando o jornal alemão Süddeustche Zeitung obteve 11,5 milhões de documentos sobre o escritório do Panamá e compartilhou os papéis com 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países, todos ligados ao Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ), entidade sem fins lucrativos com sede em Washington, nos Estados Unidos. No Brasil, a investigação foi conduzida pelo portal UOL, do Grupo Folha, pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela Rede TV!. A série de reportagens foi batizada de Panama Papers.
A investigação internacional revela que o escritório panamenho criou empresas para 57 investigados no esquema de corrupção da Petrobras, de acordo com o UOL. Para esses investigados foram abertas 107 empresas offshores, ainda segundo o UOL. Essas firmas podem ser legais ou ilegais, mas têm em comum o fato de operarem em paraísos fiscais para pagar menos impostos e dificultar a identificação de seus donos.