No domingo de 13 de março, quando a maior manifestação pró-impeachment tingiu de verde-amarelo a Avenida Goethe, no bairro Moinhos de Vento, na Capital, um grupo batucava do alto de um trio elétrico e dava ritmo de samba aos gritos de oposição ao governo:
– Ôoo, vai ter justiça sim, senhor; Dilma, Lula e o PT; vamos botar todo safado pra correr.
O repertório também incluía versos de Chora Petista, Lula Sabia de Tudo e Dale Moro: paródias com temática política para cânticos de torcidas de futebol e marchinhas de Carnaval. Os hits anti-governo têm embalado protestos em Porto Alegre desde 2015 e, por trás deles, está o primeiro grupo especializado na defesa do impeachment de que se tem notícia: La Banda Loka Liberal.
– O protagonismo da cultura no Brasil está baseado na apropriação dos espaços pela esquerda. Vemos a banda como uma forma de fazer contraponto a isso ao trazer nossos ideais para a música, de forma que eles penetrem na sociedade pela cultura, e não só por um movimento político – diz o desenvolvedor de software Tiago Menna, 28 anos, um dos integrantes.
O grupo, de maioria jovem, nasceu em uma passeata em março de 2015, maturou-se após as denúncias de corrupção da Operação Lava-Jato e arrecadou popularidade e participantes. Hoje, reúne mais de 40 organizadores e beira os 50 mil fãs no Facebook.
Organização horizontal sem lideranças individuais
Os integrantes evitam opinar em bloco e admitem divergências internas sobre assuntos polêmicos. Mas alguns temas são unanimidade, como a defesa do liberalismo econômico e do Estado mínimo. Além, claro, da maior inspiração em suas canções: o constante ataque ao PT – 10 dos 13 cânticos da banda disponíveis em um site criticam a sigla.
A Banda Loka está vinculada à nova direita, corrente política encabeçada por grupos como Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua. No conjunto musical, que defende a horizontalidade na organização, não há líderes.
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– A nossa dinâmica é descentralizada, essa coisa meio "zoeira", essa levada que tem ironia saudável. É o nosso jeito de devolver o protagonismo da sociedade para as mãos dos cidadãos – resume o advogado Tito Moreira, 28 anos.
A banda combina mobilizações e compõe músicas por um grupo no WhatsApp, e os ensaios acontecem informalmente nos churrascos da turma.
Assim, criaram atos de repercussão nacional. Entre eles, um no bairro Bela Vista, na Capital, quando penduram faixa com os dizeres "Teori traidor" na grade do condomínio em que um dos apartamentos é do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavaski, responsável pelas ações da Lava-Jato, após ele ordenar remessa dos processo sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Corte. A ação rendeu 900 mil visualizações e 26 mil compartilhamentos dos vídeos publicados na página da banda.
Mas o ato também provocou reações. O Ministério da Justiça reforçou a segurança de Zavascki e determinou investigação de ameaças aos membros do Supremo. O ministro do STF Marco Aurélio Mello classificou o protesto de retrógrado porque "não dá para execrar um juiz que está simplesmente cumprindo o seu dever". E o vice-líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), classificou o episódio como um sintoma da escalada fascista no Brasil.
– Foi uma manifestação pacífica, tivemos apoio de vizinhos e não danificamos nada. Nesse sentido, não acho que fazer uma crítica seja excesso – defende o estudante de Economia da UFRGS João Pedro Bastos, 19 anos.
A rejeição a qualquer um que discorde do impeachment também fez com que a banda recebesse acusação de intolerante. No Parcão, onde acamparam por quase um mês, os jovens enfileiraram cartazes com fotos dos deputados gaúchos indecisos ou contrários ao processo. Com bexiguinhas cheias d'água, derrubavam um por um.
– Uma coisa é defender o impeachment e acreditar que não seja golpe. Outra é dizer que tudo que é de esquerda é ruim – critica o publicitário Matheus Castro, 28 anos, integrante do Bloco da Diversidade, movimento que faz contraponto à esquerda da Banda Loka.
Na segunda-feira, quando a comissão do impeachment aprovou o relatório favorável ao afastamento de Dilma, um grupo de deputados da oposição agitava as mãos para cima e cantarolava:
"Chora petista, bolivariano; a roubalheira do PT está acabando".
Em plena Câmara, mais um hit da La Banda Loka Liberal.