Está marcada para as 9h30min desta quinta-feira a decolagem da presidente Dilma Rousseff e sua equipe para Nova York, onde participa da sessão de abertura de assinatura do acordo de Paris, sobre meio ambiente, na Organização das Nações Unidas (ONU). A chegada está prevista para às 19h30min (hora local). O vice-presidente Michel Temer assumirá o cargo interinamente, mas, até o início da tarde desta quarta-feira, a sua equipe não tinha sido avisada da viagem de Dilma.
Temer, que tem sido criticado e chamado de "traidor" por Dilma, não pretende vir para Brasília. A ideia dele é permanecer em São Paulo, sem agendas externas, com um comportamento totalmente discreto. Dilma só retorna ao Brasil na madrugada de sábado para domingo.
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Na agenda da presidente Dilma nos Estados Unidos, além da reunião na ONU, a partir das 8h30min de sexta-feira, estão previstas pelo menos duas entrevistas, na sexta-feira e no sábado. Dilma quer usar todos os meios possíveis e aproveitar o favoritismo que tem encontrado na imprensa internacional à sua causa para repetir o discurso de que tem "profunda consciência" que está sendo vítima de um processo e simultaneamente, "um processo baseado em uma flagrante injustiça, uma fraude jurídica e política, que é a acusação de crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e ao mesmo tempo de um golpe".
O gesto da presidente Dilma ignora que, ao contrário da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Unasul – União Nacional das Nações Sul Americanas, o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, minimizou o processo no país. Dujarric disse, em entrevista coletiva, que o Brasil tem "tradição democrática" e "instituições de Estado fortes". Acrescentou ainda que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está acompanhando a situação política atual no Brasil "de perto", que "o Brasil tem uma tradição democrática sólida e instituições de Estado fortes" e que "está confiante que os atuais desafios do país serão resolvidos por estas instituições em conformidade com a Constituição e o quadro legal."
A presidente quer aproveitar sua viagem aos Estados Unidos para, da tribuna internacional, mostrar posição diferente da defendida por Ban Ki-moon, denunciando o golpe que ela diz que está sendo armado e que foi deflagrado e comandado na Câmara por Eduardo Cunha, que é réu em processos inclusive no Supremo Tribunal Federal. Dilma irá se escorar, inclusive, em notícias divulgadas pela imprensa internacional, que chegou a ironizar a situação no País de ter um réu colocando em julgamento uma presidente que não é acusada de cometer atos de corrupção. A presidente vai insistir ainda que o que está sendo feito contra ela é "um golpe em que se usa de uma aparência de processo legal e democrático para perpetrar um crime que é a injustiça".
Em suas diversas falas, durante o período em que estiver nos Estados Unidos, a presidente Dilma pretende lembrar também que tanto a OEA quanto a Unasul questionaram o processo de abertura de impeachment contra ela. Na segunda-feira, um dia depois da aprovação do processo para afastamento da presidente, a Unasul emitiu nota em que considera a aprovação do processo de impeachment da presidente brasileira, pela Câmara dos Deputados, um "motivo de séria preocupação" e que pode afetar a democracia da região. Já o secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, disse que "o impeachment constitui um ato de flagrante ilegalidade".