Dilma Rousseff rema contra o isolamento provocado pelo clima de fim de governo. A duas semanas da votação que deve confirmar a instauração do processo de impeachment e seu afastamento temporário, a presidente depara com um quadro desanimador: partidos da base debandaram, a Esplanada tem ministros-interinos ou desconhecidos e as reformas na área fiscal estacionaram.
Disposta a lutar pelo mandato, Dilma prepara anúncios. Ministros foram convocados a colocar na rua projetos, a fim de evitar a imagem de governo paralisado. Nesta terça-feira, a entrega simultânea de unidades do Minha Casa Minha Vida, 2,8 mil somente em Salvador, teve este objetivo.
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Turbinar a agenda é a ordem para tirar da letargia uma Esplanada contaminada pela incerteza da possível troca de governo, que retarda o trabalho de servidores e faz comissionados iniciarem a busca por novos empregos. Há nove ministros em condições de interinidade ou sem expressão política.
No Congresso, Dilma ficou apenas com PT, PC do B e parte do PDT, reforçados pelo PSOL. O restante dos partidos entrou no beija-mão a Michel Temer. A ascensão do vice é reforçada em uma manobra articulada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele quer rejeitar medida provisória enviada por Dilma, que trata do remanejo de recursos em áreas com superávit. A avaliação é de que esse tipo de decisão terá de ser tomada por Temer. No Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) avisou que não poderá conter o impeachment.
Abertura ao diálogo é vista como ação tardia
Se perdeu apoio, Dilma busca aproximação da esquerda em atos com movimentos sociais para denunciar o “golpe”. Petistas que estiveram com a presidente nos últimos dias relatam que ela está mais aberta ao diálogo e aceitando opiniões. Nos bastidores, comenta-se que, se tivesse esta postura desde o primeiro mandato, teria evitado o derretimento da base.
O processo de afastamento reaproximou Dilma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que analisa a crise e desenha a estratégia de salvação. No Palácio do Alvorada, o núcleo de confiança da presidente segue restrito a José Eduardo Cardozo (AGU), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e a rebelde do PMDB, Kátia Abreu (Agricultura), que se negou a deixar o governo.
O assessor especial Giles Azevedo, que tem relação de mais de 20 anos com a presidente, segue escudeiro fiel. Servidor de carreira, tende a continuar ao lado de Dilma mesmo que a cassação seja consumada – ex-presidentes têm direito a assessores.
Fidelidades e incertezas
Núcleo duro do planalto
Os companheiros fiéis que se mantém firmes no apoio à Dilma:
Lula – O ex-presidente aumentou o contato com a afilhada. Enquanto briga na Justiça pelo cargo de ministro da Casa Civil, conduz a articulação no Senado para barrar o impeachment.
José Eduardo Cardozo – Amigo e conselheiro da presidente, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU) responde pela defesa de Dilma no processo de impeachment.
Jaques Wagner – Amigo da presidente e próximo de Lula, o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência é figura constante nas reuniões no Alvorada.
Ricardo Berzoini – Próximo de Lula, o ministro da Secretaria de Governo faz a articulação com o Congresso. Também tem trânsito livre no Alvorada.
Giles Azevedo – Assessor especial de Dilma, braço direito dela há décadas, deve continuar no trabalho com a presidente durante possível afastamento temporário, mesmo após o surgimento de denúncias de que teria orientado o recolhimento de propina para as campanhas à Presidência em 2010 e 2014. Giles nega as acusações.
Kátia Abreu - Ministra da Agricultura, tem relação próxima e troca com a presidente avaliações sobre o cenário político. Filiada ao PMDB, negou-se a deixar o governo após o desembarque do partido do vice-presidente Michel Temer.
Esplanada de desconhecidos
Na batalha do impeachment, Dilma fez uma série de exonerações em ministérios e as vagas seguem ocupadas por interinos.
Eva Maria Dal Chiavon (casa Civil) – Com a posse de Lula barrada, está na Casa Civil. Foi secretária da pasta no governo da Bahia com Jaques Wagner.
Guilherme Walder Mora Ramalho (aviação Civil) – Está na vaga que era de Mauro Lopes (PMDB-MG). É a segunda vez que fica como ministro-interino em menos de um ano.
Marco Antonio Martins Almeida (Minas e Energia) – Entrou na vaga de Eduardo Braga (PMDB-AM). Era secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do ministério.
Emília Maria Silva Ribeiro Curi (Ciência e Tecnologia) – Servidora de carreira, assumiu a pasta com a saída de Celso Pansera (PMDB-RJ).
Ricardo Leyser (Esporte) – Está na vaga que era de George Hilton (PROS-MG). Foi secretário-executivo e secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento.
Alessandro Teixeira (Turismo) – Substituiu Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Foi secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento e também assessor especial de Dilma.
Josélio de Andrade Moura (Integração Nacional) – Com os pedidos de demissão de Gilberto Occhi e José Rodrigues Pinheiro Dória, ambos do PP, assumiu o ministério.
Inês da Silva Magalhães (Cidades) – Substituiu Gilberto Kassab (PSD-SP). Já ocupou outros cargos no próprio ministério nos governos do PT. Foi titular da Secretaria Nacional de Habitação.
Maurício Muniz Barretto de Carvalho (Portos) – Entrou na vaga de Helder Barbalho (PMDB-PA). Foi secretário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).