Preso em flagrante na Operação Braço Forte na tarde desta terça-feira e liberado após pagar fiança de R$ 1 mil, o tenente-coronel André Luis Pithan, comandante da Brigada Militar em Pelotas, negou envolvimento nos crimes atribuídos à empresa de segurança privada Nasf, suspeita de torturar pessoas que furtavam ou roubavam locais protegidos por ela e de extorquir moradores e empresários da cidade para forçar a contratação dos seus serviços.
A prisão de Pithan ocorreu após o Ministério Público flagrá-lo na posse de uma arma registrada em nome de Wagner Nicoletti Fernandes, proprietário da Nasf em sociedade com seu pai, o tenente aposentado da BM Nelson Antonio da Silva Fernandes. Em entrevista a ZH, Pithan afirma que a arma foi entregue a ele pelo próprio Wagner, com o objetivo de evitar "um mal maior" durante uma briga de casal.
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Por que o senhor estava com a arma de um dos sócios da Nasf?
Eu fui envolvido nesse fato por causa de uma briga de um casal semana passada – o filho do dono da Nasf (Wagner Nicoletti Fernandes) e a esposa dele, que é soldado e trabalha aqui no 4º Batalhão. Eles brigaram por volta das 4h, e o Wagner me entregou a arma dele para que não acontecesse um mal maior ali, decorrente da briga. Eu fiquei com essa arma até baixarem os ânimos. A arma está legalmente registrada e eu sabia disso. Ocorre que havia uma investigação na qual foi citado que essa arma estava comigo. Logo que tomei conhecimento disso eu levei a arma até a Delegacia de Polícia (A versão de Pithan contraria a do Ministério Público, segundo a qual a Corregedoria da Brigada Militar se deslocou até o quartel após ser alertada e deu voz de prisão ao comandante, que foi encaminhado posteriormente à delegacia). A única coisa que me relaciona com isso foi o fato de eu estar com essa arma. Fui preso por posse ilegal de arma de fogo, paguei fiança e fui liberado.
O senhor tinha conhecimento dos crimes dos quais a Nasf está sendo acusada?
Quando eu cheguei em Pelotas, em 2014, já tinha informações de que a Nasf era uma milícia. A primeira providência que tomei foi fazer uma singela investigação. Abordamos os veículos da Nasf e não encontramos nada de irregular na época. Então, não nos envolvemos mais com isso. Não cabe à Brigada Militar fazer investigação sobre o caso.
Há fotos do senhor abraçado com Wagner, sócio da Nasf. Qual é a sua relação com ele?
Somente no final do ano passado que eu tive contato com a família, quando conheci o Wagner e o tenente Nelson através dessa soldado do 4º Batalhão. O Wagner é meu amigo.
Segundo assessoria da Brigada Militar, o senhor será deslocado de função e não mais atuará na Região Sul. O senhor já foi comunicado sobre as medidas que o Comando da BM irá tomar em decorrência da sua prisão?
Eu fiquei sabendo que vou ser afastado do comando do 4º Batalhão e que serei afastado de Pelotas. Não veio nada oficial do Comando ainda, mas, conhecendo a Brigada Militar, é provável que isso de fato aconteça.
Afastamento
O coronel Alfeu Freitas, comandante da Brigada Militar, disse que o tenente-coronel Pithan foi afastado temporariamente de suas atividades e que a sua participação nos episódios ligados à Nasf está sendo analisada pelo Comando.
– Vamos transferi-lo do comando e, inclusive, da região de Pelotas. Estamos analisando qual destino daremos para ele.
Segundo Freitas, será aberto um inquérito policial-militar para apurar a situação.
– A transferência é para o bem das investigações. Eu não posso deixar um tenente-coronel comandante, que é o alvo desse inquérito, lá na região. Vou levar ele para outro local – afirmou.