Amigos desde os tempos em que frequentavam o escotismo, ainda na infância, e casados há 21 anos, a ex-balconista Márcia Moura de Britto, 40 anos, e o ex-microempresário e estudante de Serviço Social André de Britto, 41 anos, de Campo Bom, criaram há oito anos um projeto de vida que deu novo sentido à família: juntos, os dois fundaram a organização social não-governamental Criança Cidadã, uma ação que atende crianças e adolescentes de bairros carentes da cidade.
Para se dedicar ao projeto, o casal deixou os empregos e hoje divide-se entre o Criança Cidadã e um sítio cuidado por eles. Ao lado dos filhos, Lídia, sete anos, e Yuri, 21, a Ong oferece atividades extras diárias e gratuitas para 30, com idades entre cinco e 15 anos. Iniciado no Bairro 25 de Julho, um dos mais carentes da cidade, o projeto mudou-se no início deste ano para o Imigrante, do outro lado da cidade. O motivo foi o recebimento de um prédio cedido pela prefeitura pelos próximos cinco anos. Apesar da boa notícia, a mudança trouxe um problema: as mais de cem crianças antes atendidas no antigo local deixaram de frequentar por conta dos 6km que separam os dois endereços.
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Enquanto recomeçam na nova sede do Criança Cidadã, Márcia e André buscam apoio para o transporte dos antigos frequentadores. Mas nem a dificuldade atrapalha o sonho dos dois de ampliar o atendimento. Eles seguem o lema do escotismo "esteja preparado"- para o que der e vier e para todos.
Depoimento de Márcia
Convite
"Cansamos de ver muitas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, sem nenhuma atividade depois da escola ou nos finais de semana. Então, resolvemos fazer alguma coisa. Imprimimos uns convites dizendo que ofereceríamos brincadeiras e lanches para quem quisesse comparecer. Abrimos as portas da nossa casa. A ideia era dar momentos de alegria para quem aparecesse por lá."
Fome
"Nos primeiros sábados, não veio ninguém. Daí, no terceiro sábado, uns cinco vieram. Depois, lotou. Num dia, quando tínhamos cerca de 50 frequentando, um menino me perguntou se demoraria para darmos o lanche - que era doado do nosso próprio bolso. Eram 15h, e ele não havia comido nada naquele dia. Percebi que precisávamos fazer mais. Aquela situação de ver uma criança com fome me fez despertar para a criação do Criança Cidadã."
Satisfação
"Abrimos mãos do nosso espaço, do nosso lar, para dar um lugar para eles. Ao ajudar, me realizo a cada dia. Abri mão da minha vida, com a minha família, o filho participando, a minha filha participando, e eles crescendo juntos e entendendo que a gente precisa ajudar o próximo, que a gente precisa se doar, que tem que haver uma entrega e você tem que gostar do que está fazendo."
Voluntários
"Hoje, oferecemos aulas de dança, de música, de artesanato, brincadeiras e lanche. Mas estamos sempre precisando de voluntários. Temos, por exemplo, instrumentos musicais - como teclados, flautas, violinos e violoncelos _ e não temos professores para ensinar. Então, nossas portas estão abertas para quem quiser nos ajudar nem quem seja uma vez por semana.
"Cidadão do bem"
É gratificante porque digo que hoje fiz algo por alguém. Ajudei uma criança a socializar com as outras, a interagir, a dividir. Demos um Norte, mostramos que é importante obedecer ao pai e à mãe, de obedecer o próximo, de ser um cidadão do bem."
Depoimento de André
Doações
"Nós dependemos de doações. É muito árdua esta função de bater de porta em porta. Você recebe muitos nãos, infelizmente. A cada dia, queremos mostrar que a nossa instituição é séria. O que me fortalece é que se fecha uma porta, abre-se uma janela."
Escotismo
"Desde pequeno, aprendi no escotismo que o mais importante é ajudar ao próximo em toda e qualquer ocasião. Apesar das dificuldades, me sinto o cara mais feliz do mundo porque estou no melhor trabalho do mundo. Amo o que eu faço."
Para ajudar o projeto:
(51) 9637-2340 - Márcia
(51) 9707-0403 - André