Neste sábado, Cassemiro Antônio Chaves, 53 anos, completa três décadas de trabalho num local para onde ninguém deseja ir tão cedo. Foi no Cemitério 2 de Novembro, conhecido em Viamão como "cemitério velho", que ele começou sua carreira como "operário não especializado". O trabalho incluía capina, pintura, manutenção geral do cemitério e também sepultamentos – só que Cassemiro não imaginava que teria de desempenhar esta última tarefa.
– Estava há um ano desempregado, fazendo bicos, e vi que, assim, não daria. Tinha que escolher entre uma oficina mecânica e o cemitério. Como não queria viver engraxado, assumi no cemitério. Fui ficando e gostando do serviço – conta.
No terceiro dia de atividade, Cassemiro fez o primeiro enterro, na quadra cinco. Ao longo de 30 anos, ele calcula ter realizado cerca de 10 mil sepultamentos.
– O mais difícil foi lidar com a morte. No início era ruim, eu sonhava de noite. Ficava pensando nos sepultamentos. O pessoal (familiares dos mortos) chorava e eu tinha que me segurar para não chorar junto. Mas hoje é como qualquer outro tipo de serviço – explica o profissional que, embora trabalhe nos outros cemitérios da cidade, conhece cada uma das 25 quadras do 2 de Novembro.
Histórias curiosas
Durante a carreira, Cassemiro acumulou muitas histórias curiosas, enquanto acompanhou a rotatividade de vários colegas – que desistiam do serviço quando havia necessidade de exumação (desenterrar) pela falta de condições emocionais.
– Um estava pintando um túmulo e disse que uma criança tinha saído da gaveta e estava sentada olhando para ele, mas não tinha nada. Outro não ficava sozinho na quadra porque dizia que via o capeta circulando – lembra o coveiro que, ao meio-dia, diz já ter sentido que havia gente por perto, pelo cheiro de perfume, mas não havia ninguém.
Já em um velório, Cassemiro relata a ocorrência de um perrengue envolvendo a esposa do morto e as amantes. Em outro, familiares tiraram o morto do caixão e jogaram no chão, insistindo para que acordasse. O coveiro também ouviu mais de uma vez as pessoas que estavam no velório discutindo a herança antes mesmo de enterrar o ente querido.
– Outra vez, enterraram um amigo e colocaram uma garrafa de cachaça dentro do caixão. Quando foi feita a exumação, pegaram a garrafa, lavaram e saíram bebendo – conta.
Carreira longa em Viamão
As histórias de um homem que trabalha como coveiro há 30 anos: "Fui ficando e gostando do serviço"
Cassemiro realizou cerca de 10 mil sepultamentos em três décadas. Profissionalismo foi reconhecido pelos colegas.
Roberta Schuler
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