O ataque realizado por duas dezenas de ladrões a um supermercado Nacional no domingo à noite, na Capital, ampliou a sensação de insegurança da população ao apontar nova escalada no nível de ousadia dos criminosos.
O arrastão, que se somou a pelo menos outros dois assaltos ocorridos em poucas horas em Porto Alegre, também coloca em xeque as ações das forças de segurança do Estado para enfrentar a onda de violência urbana. Comerciantes asseguram que o assédio dos bandidos a lojas e mercados já afugenta clientes e agrava os efeitos da crise econômica em certos locais.
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O número de roubos em geral aumentou 28,3% no Estado no ano passado em relação a 2014, alcançando 79.112 casos – equivalente a 217 por dia. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) não informou quantas dessas ocorrências envolveram comércios, mas a avaliação de entidades do setor é de que há um cerco cada vez mais fechado imposto pelas quadrilhas.
Pouco antes das 21h do domingo, o crescente destemor dos assaltantes fez com que 20 homens ignorassem as câmeras de vigilância, invadissem o Nacional localizado na Avenida Lucas de Oliveira, fizessem clientes e funcionários reféns e fugissem com dinheiro do cofre, mercadorias e pertences das vítimas – no total, pelo menos R$ 60 mil de prejuízo. Na mesma noite, ladrões também levaram R$ 4 mil e mercadorias das Lojas Americanas, no bairro Higienópolis, e quatro homens armados invadiram um posto de combustíveis na Avenida Farrapos, roubaram uma quantia não informada do cofre e amarraram funcionários. Em Gravataí, a guerra do tráfico deixou cinco mortes, três delas em ataque a tiros na frente de um posto de saúde.
– A sensação é de violência disseminada. Lojistas estão sendo atacados diariamente – queixa-se o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio da Capital (Sindilojas), Paulo Kruse.
Segundo Kruse, há queda generalizada de 8% nas vendas devido à crise, mas esse percentual varia entre 10% e 12% em regiões onde o medo do crime é maior, como no Centro.
A socióloga Letícia Schabbach, membro do grupo de pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS, afirma que a recuperação de terreno dos bandidos passa por combinar ações de curto prazo, como ampliação das rondas policiais e monitoramento das quadrilhas, com melhorias estruturais, como reforço de pessoal. Iniciativas mais amplas dependem de recursos, mas o momento é de crise financeira aguda.
– Comércios terão de investir mais em sua própria segurança, ainda que o custo final recaia sobre o consumidor – analisa a especialista.
Comando de policiamento da capital diz utilizar "os recursos que tem"
Uma das estratégias do Estado é colocar mais policiais nas ruas em iniciativas como a Operação Avante, da Brigada Militar, que atua em áreas com alto índice de criminalidade.
– Temos feito abordagens, prendido pessoas e apreendido armas e munição – sustenta o chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), tenente-coronel Mário Ikeda.
Mas a falta de recursos e de pessoal – a defasagem no efetivo estava em 42% ao final do ano passado – não limitariam a capacidade de reação do policiamento ostensivo?
– Essa pergunta não é para mim. Trabalho com os recursos que tenho.
Procurada, a SSP não se manifestou.