Pela terceira vez em pouco mais de cinco anos, um vazamento de óleo no mar de Tramandaí e Imbé, no Litoral Norte, motivou uma grande mobilização das autoridades. O acidente no carregamento do navio da Transpetro, nesta quinta-feira, ganhou proporções diferentes ao longo do dia e era redimensionado a todo instante.
No início da manhã, o prefeito de Imbé, Pierre Emerim (PT), afirmou que o vazamento teria consequências "históricas" porque "milhões" de litros de óleo tinham vazado no mar. O Batalhão Ambiental da Brigada Militar, por sua vez, considerou o fato como "emergência".
Mais tarde, o chefe do departamento de fiscalização da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Renato Zuchette, minimizou o acidente e disse que uma "notícia falsa" havia sido plantada. Com conhecimento técnico, ele disse que poderia tranquilizar a população que o vazamento não tinha as proporções anunciadas anteriormente.
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As informações iniciais divulgadas pelas autoridades provocaram uma reação imediata. Barcos e helicópteros foram deslocados ao local e diversos órgãos se prontificaram a apurar os danos. Tramandaí tinha representantes da Brigada Militar, Polícia Civil, Ibama, Fepam, Defesa Civil, Marinha, Ministério Público e Instituto-Geral de Perícias (IGP), além da Transpetro, subsidiária da Petrobras, responsável pelas operações.
O apoio aéreo foi um dos mais exigidos durante boa parte do dia. Um helicóptero da Polícia Civil chegou a contabilizar mais de 20 sobrevoos, com diferentes equipes, para analisar o vazamento. De cima, a impressão que o acidente passava era de uma lâmina extensa de óleo, sem densidade, espalhada pelo mar. Aos poucos, a mancha foi se deslocando para alto mar com a ajuda do vento, que também a afastava da costa.
No heliponto de Imbé, de onde partia a maioria dos sobrevoos da polícia, moradores curiosos se aproximavam. Uns chegavam de bicicleta, moto, outros a pé, mas grande parte de carro. Virou ponto de atração.
– Derramou óleo de novo, é? – apostou Ivo Antunes, sem nem sequer conseguir enxergar a mancha. – É isso toda hora agora, virou rotina – lamentou, lembrando episódios semelhantes, ocorridos na mesma praia, em 2000, 2012 e 2014.
Na barra de Imbé, por onde passam as embarcações, o vazamento não atrapalhou as atividades dos pescadores. Com tarrafas e caniços, os molhes ficaram lotados. Pelo menos 40 pessoas se espalharam e dividiram a água com as embarcações, que iam e voltavam o tempo inteiro, e com os botos que habitam a região.
– A gente acaba se acostumando. Não é surpresa, nem acidente. É tudo previsto, eles sabem que pode acontecer e não fazem nada. Daqui a pouco não vai mais ter essa pescaria aqui. Disso eu tenho medo – disse João Carlos Silveira, em pé, nas pedras da barra, enquanto tirava uma rede vazia da água.
Proprietário de um restaurante na mesma região, Carlos Henrique Oliveira criticou a Transpetro:
– Isso aí acontece direto. Só que tem algumas vezes que nem é relatado, ninguém fica sabendo. A gente só percebe quando enxerga a mancha na praia. Despedem um monte de gente, trabalham com o mínimo necessário para manutenção. Essa é a causa. Prejudicam o serviço. Aí acontecem essas coisas – opina Henrique, nativo de Imbé.
Apesar de ter perdido força ao longo do dia, os danos ambientais que podem ser provocados pelo vazamento de óleo ainda motivam grande preocupação das autoridades. O capitão Tiago Almeida, do Batalhão Ambiental da Brigada Militar, diz que praticamente todo o efetivo do Litoral Norte foi deslocado para a ocorrência e que o acompanhamento continuará nos próximos dias.
– Pela quantidade, a tendência é que essa mancha vá se dissipar. Vamos acompanhar o deslocamento pela costa para verificar se isso vai causar alguma mortandade de animais – diz.
*Zero Hora