Com a população local afastada do percurso presidencial e sob rigorosa vigilância da segurança do governo cubano, o presidente dos Estados Unidos, acompanhado da família, chegou neste domingo a Havana para uma viagem de dois dias à ilha. Obama permanecerá em solo cubano até terça-feira para uma série de compromissos cuidadosamente discutidos e combinados com o governo socialista de Raúl Castro.
O gesto diplomático de Obama, o primeiro presidente americano a estar em Cuba em 88 anos, está cercado de simbolismo. No âmbito interno do país, coincide com os preparativos para o Congresso Anual do Partido Comunista de Cuba (PCC), que decide a soberania sobre as decisões de governo e define os rumos da política e economia para o próximo ano.
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A presença dele também dá fôlego à oposição, reprimida com mão de ferro pelo regime. Para o mundo, o presidente consolida a figura conciliatória e entra para história como o primeiro mandatário americano, no exercício da função, a apertar a mão de Raúl Castro em Cuba. Obama, a primeira-dama, Michelle e as filhas foram recebidos no aeroporto José Martí pelo chanceler cubano, Bruno Parilla, num ambiente formal e protocolar – o presidente cubano não estava presente.
A comitiva rumou direto para a embaixada dos Estados Unidos, reaberta em agosto do ano passado e um dos prédios mais fortificados de Havana. No rastro da comitiva presidencial, um comboio de veículos blindados levando hordas de seguranças e assessores.
Logo cedo, a segurança do governo cubano se encarregou de impor um esquema de isolamento que não permitiu qualquer cubano de chegar perto do largo da Catedral de San Cristóbal, em Havana Velha, o primeiro local onde o presidente aparecia perto do público. Todos eram submetidos à identificação, checagem de documentos e revista. Muitos fizeram meia volta e desistiram diante da abordagem com intimidação. Até mesmo os repórteres eram retirados da rua sem nenhum critério.
Enquanto o presidente não chegava à Havana Velha, um grupo de cerca de 100 pessoas da organização Damas de Branco – mulheres de presos políticos – aproveitou a presença da imprensa internacional para protestar nas ruas da capital contra o governo. Não demorou muito para a polícia desembarcar de camburões e encarcerar à força cerca de 50 ativistas. No largo da Catedral, seguranças se misturaram ao público, na maioria turistas.
– Onde está o povo cubano? – perguntou um turista espanhol.
A chuva forte ajudou a espantar as pessoas do local. Quando começava a escurecer, Obama apareceu atrás de uma fila de agentes americanos pela rua estreita que dá acesso à praça. Sorrindo mesmo debaixo do temporal, fez questão de se aproximar do cordão de isolamento e distribuir cumprimentos. Com uma mão estendida e outra no celular, Julius Navarro conseguiu alcançar o presidente. O toque na tela do celular falhou.
– Tentei fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas a foto não saiu. Ninguém vai acreditar que eu apertei a mão do presidente dos Estados Unidos – lamentou Julius, que desconversou quando perguntado o que ele achava da visita.
Os cubanos evitam entrar em detalhes ou expor abertamente sua opinião sobre o momento do país. Americanos presentes na passagem de Obama, por outro lado, fazem questão de comentar. A professora Nancy Roberts, da Califórnia, está Cuba para um acordo de cooperação com a Universidade de Havana.
– É um caminho sem volta. Não existem mais motivos para o clima hostil. Agora nosso Congresso precisa derrubar o bloqueio comercial – disse.