Sob os ecos das explosões de terça-feira e em meio ao luto pelas vítimas da tragédia, Bruxelas procura retomar uma normalidade cotidiana, ainda atormentada por muitas questões sem respostas. Ao mesmo tempo em que os mortos dos ataques começaram a ganhar um nome e uma história, as investigações policiais avançaram na identificação dos autores da chacina, estabelecendo uma ligação concreta entre os atentados ocorridos em Paris, em novembro, e agora na capital belga. Em nível europeu, as autoridades acumulam reuniões na busca de formas de enfrentar a crescente ameaça terrorista no continente. Os três extremistas dos ataques de Bruxelas tiveram suas identidades formalmente confirmadas por meio de suas impressões digitais.
Ibrahim el-Bakraoui e Najim Laachraoui detonaram os explosivos por volta das 8h no aerooporto de Zavantem. Khalid el-Bakraoui fez o mesmo pouco depois das 9h, na estação de metrô Maelbeek. A identificação indica que os atentados de Paris e de Bruxelas teriam sido planejados e cometidos pela mesma célula terrorista, da qual participava também Salah Abdeslam, envolvido nos ataques na capital francesa e preso na última sexta-feira.
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Ibrahim el-Bakraoui, 30 anos, teria sido detido na Turquia em junho do ano passado, e expulso do país um mês depois, segundo autoridades de Ankara. Antes, em 2010, havia sido sentenciado pela Justiça belga a uma pena de nove anos de prisão por ter atirado com um fuzil kalashnikov contra policiais, ferindo um deles. Seu irmão Khalil, 27 anos, tinha sido condenado em 2011 a cinco anos de detenção por roubo de carros e é suspeito de ter alugado o apartamento em Bruxelas que serviu de base para a preparação dos ataques na capital francesa. NajimLaachraoui, 24 anos, o terceiro elemento, é apontado como o coordenador da logística dos atentados de Paris, desde Bruxelas.
À parte das investigações, o dia foi marcado por fortes emoções para os belgas. Na Place de la Bourse, Leila Nabad, 38 anos, nascida em Bruxelas e muçulmana de origem marroquina, chorava durante o minuto de silêncio respeitado em todo país, ao meio-dia, em memória das vítimas dos ataques:
– Sinto um desgosto enorme. Mas não queria sentir ódio. Nasci aqui, sempre vivi aqui, e nunca deixarei Bruxelas – declarou.
Leila, que mora no bairro de Molenbeek, foco do jihadismo europeu, defende o multiculturalismo de Bruxelas, e teme que os últimos acontecimentos possam influenciar negativamente no reforço dos comunitarismos.
– Deveríamos ter cotas de nacionalidades nos bairros das cidades, tínhamos de viver misturados – sugere.
Ao final dos 60 segundos, o silêncio da Place de la Bourse foi interrompido por uma onda de aplausos, entremeados por gritos de "Viva a Bélgica!" e "Estamos todos juntos!".
De acordo com os últimos números oficiais, os ataques causaram pelo menos 31 mortos e cerca de 300 feridos, dos quais em torno de 150 ainda estão hospitalizados, sendo 61 em estado grave. O consulado do Brasil informou que quatro brasileiros estavam entre os feridos, mas já foram liberados de atendimento médico.
No plano político, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou os países da União Europeia de "passividade" diante da ameaça terrorista, e também denunciou o atraso na aplicação do registro de identificação de passageiros (o PNR, na sigla em inglês) no continente:
– Se todos os governos tivessem aplicado as propostas da comissão, não estaríamos na situação de hoje.