A cada passo pelas ruas da Ilha da Pintada, em Porto Alegre, a pedagoga e pesquisadora Teresinha Carvalho da Silva, 72 anos, tem a certeza: deixará uma marca na história do Bairro Arquipélago. Voluntária em diferentes frentes na região desde o início dos anos 1980, Teresinha revolucionou a questão social nas ilhas. E fez do trabalho voluntário um projeto de vida.
Na época funcionária da Secretaria Estadual de Educação, Teresinha deu início ao trabalho pela Ilha dos Marinheiros, onde reuniu mulheres para ouvir o que elas mais necessitavam na região. Surgiu, por meio das ações de Teresinha, o Clube de Mães Unidos da Ilha Grande dos Marinheiros.
Com o sucesso do trabalho, a pedagoga foi chamada pelos moradores da Ilha da Pintada. Do encontro, nasceu a Associação dos Amigos, Artesãos e Pescadores da Ilha da Pintada (Aaapip), que até hoje oferece atividades para os moradores do bairro.
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A maior contribuição de Teresinha veio já nos anos 2000, a partir de uma joia artesanal feita com escamas de peixe. Ao ver o objeto, a pedagoga percebeu que ali havia uma possibilidade de fazer da principal matéria-prima da região uma fonte de geração de renda. Foi o primeiro passo da Art'Escama, grife que surgiu das mãos das artesãs da Ilha da Pintada e que hoje é reconhecida em todo o Brasil.
De tão envolvida com a região, Teresinha confessa que o trabalho virou amor. E a pedagoga tornou-se moradora da Ilha da Pintada, às margens do Jacuí.
Há 20 anos, ela pesquisa a importância histórica das ilhas. A ação solitária a levou à fundação do Museu das Ilhas, do qual é diretora. Ela acredita que o resgate da história dará identidade ao povo e, consequentemente, mais felicidade.
Rede
"Comecei na Ilha Grande dos Marinheiros, no início da década de 1980. Era uma pobreza muito grande. Parecia uma colcha de retalhos, com vários projetos e várias instituições. Mas não havia um conjunto. Comecei a costurar tudo e fazer disso um grande projeto de vida. Este projeto mostra que cada um de nós precisava fazer alguma parte. E isso significa uma grande rede para mim. Uma rede de cooperação."
Descoberta
"Reuni um grupo de mulheres e começamos a discutir a problemática da comunidade e a descobrir o que é que elas queriam. A partir do desejo, fundamos o Clube de Mães Unidos da Ilha Grande dos Marinheiros. As outras ilhas começaram a me chamar, e acabei indo para a Ilha da Pintada."
Paixão
"Por meio do voluntariado, me apaixonei demais pela Ilha da Pintada. Principalmente, pela zona de pescadores. Amo ver aqueles barcos por entre as árvores e observar os pássaros no Delta. Me tornei pesquisadora do Delta há quase 20 anos. Hoje, todos me conhecem pelas histórias e pelas escamas. Acho que deixarei uma marca no Bairro Arquipélago."
Motivação
"Sempre trabalhei em prol da Ilha. Eu me considero uma voz local, pelo trabalho realizado. Meu maior desejo é fazer com que a Ilha se aproprie de todas estas atividades que vou deixar para a geração de renda com sustentabilidade. Este resgate da identidade é o mais importante. É este resgate da história que dá identidade para que o povo se sinta mais feliz, porque sem história não tem povo feliz."