Tarso Genro, que foi ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça no governo Lula, acredita que o atual ciclo de poder do petismo, iniciado em 2003, está chegando ao fim. O ex-governador do Rio Grande do Sul concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo a respeito da Operação Aletheia, 24ª fase da Lava-Jato, deflagrada na última sexta-feira, que investiga Luiz Inácio Lula da Silva. Ele opina que o partido não soube reconstruir seu projeto desde o final do governo do ex-presidente:
– O PT dificilmente vai ter perspectivas de poder nacional no próximo período. Isso não é uma consequência específica das operações. É o fim de um ciclo econômico, social e político do Brasil que foi levado ao esgotamento – opinou ao jornal Folha de São Paulo.
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Sobre a condução coercitiva, que levou Lula a depor na sexta, Genro se mostrou contra e acusou o juiz Sergio Moro de adotar "métodos de exceção" e reproduzir o ideário de Carl Schmitt (1888 - 1985), jurista e filósofo alemão ligado ao nazismo.
– É o império que o Estado deve ter sobre a lei, inclusive descartando os procedimentos legais – afirmou.
Para ele, o Ministério Público deve ouvir Lula, mas direitos individuais estão sendo violados, o que poderia comprometer a própria finalidade da operação, com possível anulação de processos se os elementos fossem apreciados em uma instância superior.
– Existe um processo de distorção generalizada do Estado de Direito no Brasil, e a Justiça está aceitando isso. O exemplo mais claro são as delações premiadas. Deixar uma pessoa na prisão indefinidamente para ela falar é uma forma quase medieval de obter confissões. Isso era feito na Inquisição e está sendo feito na Lava-Jato – declarou à Folha.
Ao ser questionado se considera Lula inocente, Genro respondeu que não conhece sua vida financeira privada e que o ex-presidente terá a oportunidade de mostrar transparência.