Na tarde de uma quarta-feira cinzenta no sudeste de Portland, no Oregon, alguém acendeu as luzes do Tango Berretín, um estúdio de dança completamente dedicado ao tango argentino. Alex Krebs, o dono, professor e dançarino aclamado, colocou para tocar músicas tradicionais dos anos 1930 e 1940, enquanto os alunos entravam, colocavam de lado os sapatos comuns e os trocavam pelos de salto alto e tiras. Com uma partitura de tango enfeitando a parede, os dançarinos não esperam por um convite formal para tomar o piso de madeira desgastado pelo tempo. Um olhar e um contato visual mais prolongado (“cabeceo”) é o acordo mútuo para o começo da dança. Minutos depois da chegada, os alunos estão abraçados, de rosto colado, deslizando com a música.
O tango decolou em Portland no final dos anos 90. A cidade é hoje um destino reconhecido para o tango argentino na América do Norte, atraindo dançarinos do mundo todo com dois festivais anuais (O Festival de Tango de Portland, em outubro, e o ValenTango, em fevereiro) e uma efervescente cena de dança.
A sobrevivência de salões que viveram seu auge nos anos 1920 foi fundamental para a continuidade do crescimento do tango em Portland, proporcionando locais centrais e acessíveis para milongas (bailes de tango) semanais. Nos últimos anos, o tango se expandiu além dos salões para qualquer lugar com uma superfície adequada, incluindo uma padaria local.
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– Fazer pão era só um disfarce para o tango, diz sorrindo Tissa Stein, dona da Tabor Bread, sobre a concepção da padaria em 2012. Mesmo antes de abrir, o tango já fazia parte do projeto.
Ao invés de chão de concreto, Tissa escolheu um piso de nogueira cor de mel, liso e ideal para os adeptos dos passos de tango. As bancadas onde os pães são feitos durante o dia têm rodinhas para abrir espaço para a dança da noite. – Tango e pães são profundamente nutritivos. Para mim, o tango é outro tipo de nutrição para o corpo, afirma Tissa.
Depois que a padaria fecha, a Tabor Bread abre as portas para saraus de tango sensuais, atraindo até 50 dançarinos por noite. As mesas são colocadas de lado e os dançarinos giram na pista, muitas vezes ao som de música ao vivo, com o forno a lenha da padaria como pano de fundo. Tissa, de 67 anos, que começou a dançar nove anos atrás, está planejando uma milonga de fim de tarde, ou uma happy hour, para dançarinos que não podem ficar até tarde (ou como aquecimento para aqueles que podem).
– Os abraços calorosos do tango compensam a falta de sol em Portland, acredita Antje Kalinauskas, uma das anfitriãs de várias milongas que aconteceram na Tabor Bread, como a Chispa (palavra espanhola para centelha). Vinda da Alemanha, Antje, de 40 anos, descobriu uma comunidade da dança acolhedora em Portland. – Tango pode ser como falar outra língua. Pense como é divertido conhecer alguém novo e conversar na língua da pessoa.
A comunidade se expandiu além das fronteiras dos estúdios de dança também, com grupos organizando passeios de bicicleta. O sapateiro Jeff Mandel, organiza a Tango by Bike, onde passeios gratuitos em grupo são anunciados, reunindo dançarinos para andar de bicicleta até o coração da cidade onde vão dançar tango. O que começou em 2007 como passeios organizados durante os festivais, cresceu exponencialmente e hoje inclui todo tipo de reuniões de tango, como salões e milongas. Eles atraem pessoas da cidade e muitas vezes visitantes de outros lugares antes de a dança começar.
A dança ao ar livre floresce especialmente durante o verão. – O Tango no Parque começou como uma coisa meio flash mob, conta Jim Labbe, organizador do grupo da comunidade. – Primeiro dançávamos no cimento, depois começamos a procurar superfícies melhores em Portland e vamos até lá de bicicleta. Um desses lugares é o calçadão de madeira da Fonte Jamison, no Distrito Pearl, um marco da cidade que frequentemente atrai multidões que vão assistir aos dançarinos. O Tango no Parque cresceu e agora inclui pistas de dança portáteis que podem ser colocadas sobre a maioria das superfícies, de um caminho de concreto na beira do Rio Willamette até um pedaço de grama em um dos vários parques da cidade.
A devoção ao tango em Portland é alimentada por dois fatores principais: dançar é acessível e locais para as reuniões são fáceis de conseguir nessa cidade compacta e bastante plana. Uma milonga acontece todas as quintas-feiras no Norse Hall, um centro comunitário com um salão de baile (US$10), atraindo até 125 dançarinos por noite. Nas quartas-feiras, o Norse Hall atrai um público mais novo para uma milonga alternativa (US$8), uma abordagem moderna com música que não é tradicional.
A Prática Guiada semanal do Tango Berretín (US$8) fica normalmente cheia nas tardes de quarta-feira. Desde que Alex Krebs, de 38 anos, começou a dar aulas em 1997, sua lista de e-mails cresceu para 1.200 alunos de idades entre 18 e 80 anos. De acordo com Krebs, “em qualquer fim de semana em Portland, se você chegar na quinta ou na sexta-feira, consegue dançar o tango argentino a semana toda.”