Bancadas de oposição, reunidas quase que permanentemente na sala da liderança do PSDB no Senado, estão decididas a colocar em prática o afastamento da presidente Dilma Rousseff do poder. Depois da delação premiado do senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo, implicar Dilma em desvios na Petrobras e tentativas de interferência na operação Lava-Jato, a sexta-feira amanheceu com notícia que convulsionou o país: o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para depor à Polícia Federal. Ele é investigado pela Lava-Jato por ter recebido supostas vantagens indevidas das maiores construtoras do Brasil, todas envolvidas em corrupção em contratos da Petrobras.
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– Vamos traçar algumas estratégias e providências a partir de segunda-feira. Deveremos encaminhar ao STF pedido de investigação da presidente Dilma Rousseff com base nas revelações do senador Delcídio Amaral. Não podemos menosprezar, ele foi líder do governo Dilma, era do núcleo do governo. Também vamos solicitar ao presidente do STF uma audiência na segunda-feira para que possamos ouvir dele se há condições de publicar de imediato os acórdãos para que seja instalada a comissão processante e nós possamos iniciar o impeachment. Eu não vejo nenhuma outra possibilidade para que o país volte a sua normalidade politica e democrática que não seja pelas vias do impeachment da presidente Dilma – afirmou o deputado Pauderney Avelino (Dem-AM).
Depois que o STF decidiu o rito do impeachment, em dezembro passado, não houve a publicação formal da decisão da Corte – o documento é chamado de acórdão. Presidente da Câmara, Eduardo Cunha chegou a apresentar embargos – pedido de esclarecimentos – antes mesmo da publicidade do acórdão. Enquanto isso não se resolver, a comissão de impeachment fica emperrada.
A oposição também trabalha no processo de aditamento do requerimento de impeachment com informações da deleção de Delcídio. A intenção é incluir as implicações a respeito da refinaria de Pasadena e a suposta tentativa de soltar empresários presos pela Lava-Jato. O bloco também pedirá formalmente acesso às imagens de câmeras do Palácio do Planalto apontadas por Delcídio como provas de que um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) esteve lá para discutir o relaxamento de prisões da Lava-Jato.
No Senado, oposicionistas afirmam com insistência que partidos governistas e independentes estão sinalizando a adesão à tese do impeachment. Sem citar as siglas nominalmente, dizem que conversas estão em andamento. O final de semana será de articulações.
– A alternativa mais curta é o impeachment, mas ele passa pelo voto de 342 deputados. Esse número já existe? Acho que hoje ainda não. É preciso que as evidências construam esse numero. Temos de nos posicionar para salvar o Brasil. O governo vai gastar daqui para frente toda energia para se defender da delação do Delcídio. A crise econômica, já monstruosa, vai ficar em segundo plano. É preciso compreender isso e estancar para que um governo novo governo possa agir em beneficio da sociedade – avaliou o senador Agripino Maia (Dem-RN).
Também foram feitas críticas às reações de lideranças do PT e ministros do Palácio do Planalto, que estariam, do ponto de vista da oposição, insuflando a população para partir à violência.
– A crise exige responsabilidade e firmeza para que possamos encontrar, dentro da Constituição, uma saída o quanto antes, seja pelo impeachment ou pela cassação da chapa no TSE, o que possibilitaria novas eleições. Não vamos aceitar provocação. Queremos saída serena e democrática, dentro da lei. Qualquer tentativa outra de acirrar os ânimos nas ruas é um atestado quase que de culpa. Tentar conflagrar o Brasil não é o melhor caminho. Será o derradeiro erro que eles (PT) possam praticar. Será um erro fazer com que o povo brasileiro se confronte nas ruas – analisou Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado.
A oposição também está em busca do apoio de governadores e prefeitos de grandes cidades ao processo de impeachment.
Miro Teixeira (Rede-RJ) faz perfil mais moderado, é de atuação independente. Ele demonstrou preocupação e avaliou que é preciso encontrar uma saída pacificada para a crise.
– Sem eufemismos, sem meias palavras, o Lula foi preso. Condução coercitiva é um eufemismo. O que está acontecendo com o Lula é inacreditável. Eu não imaginei que fosse ver o Luiz Inácio Lula da Silva, o líder operário, o presidente da República duas vezes, o grande eleitor da atual presidente, preso. Mesmo que para prestar um depoimento, preso. Sua casa invadida, legalmente invadida para a busca de indícios da prática de crimes. O resultados dessa operação serão espetaculares, positivos ou negativos. Se encontrado um conjunto de provas da prática de crimes, o resultado é um. Se não se encontrarem, o resultado é outro e o Lula estará eleito presidente da República. Se encontrarem, será uma grande decepção para aqueles que votaram nele – refletiu Miro.
Para ele, a delação de Delcídio é “muitíssimo grave” e fragiliza ainda mais o governo Dilma.
– Tem de ter uma decisão pensada politicamente para evitarmos que as ruas sejam tomadas por atos de violência – finalizou o parlamentar da Rede.
* Carlos Rollsing, de Brasília