Ao focar na movimentação financeira do Instituto Lula e da empresa LILS Palestras, a Operação Aletheia – 24ª fase da Operação Lava-Jato – atinge um personagem estreitamente ligado ao ex-presidente Lula: Paulo Okamotto.
Desde os tempos de militância no Sindicato dos Metalúrgicos, na década de 1980, Okamotto atua ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. É sócio na LILS Palestras e preside desde 2011 o Instituto Lula, que ajudou a fundar. Conduzido para depor à Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, terá de explicar, principalmente, o repasse de dinheiro de empreiteiras investigadas na Lava-Jato para as duas entidades.
O Ministério Público Federal pediu à Justiça a prisão temporária de Okamotto. Mas o juiz Sérgio Moro, que conduz o caso na Justiça Federal de Curitiba, entendeu não ser o caso: "Apesar do requerimento do MPF, entendo que mais apropriado nessa fase o aprofundamento da colheita dos elementos probatórios, sem a imposição da prisão temporária. Não obstante, entendo que se justifica a condução coercitiva dos indicados para que prestem esclarecimentos nas mesmas datas das apreensões", diz trecho da decisão de Moro.
Em um dos trechos do pedido de buscas e de condução coercitiva que o Ministério Público Federal fez à Justiça para deflagrar a Aletheia, consta:
"Surgiram, ainda, fortes indícios de pagamentos dissimulados de aproximadamente R$ 1,3 milhão pela empresa OAS em favor do ex-Presidente, de 01/01/2011 a 01/2016, para a armazenagem de itens retirados do Palácio do Planalto quando do fim do mandato. Apesar de a negociação do armazenamento ter sido feita por Paulo Okamotto, que foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, presidente do Instituto Lula desde o fim de 2011 e sócio do ex-Presidente na LILS Palestras desde sua constituição em março de 2011, o contrato foi feito entre a OAS e a empresa armazenadora. Nesse contrato, seu real objeto foi escondido, falsificando-se o documento para dele constar que se tratava de "armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda".
Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, a maior parte do dinheiro que entrou no Instituto Lula e na LILS Palestras, entre 2011 a 2014, saiu de empresas do esquema Petrobrás: Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC.
Os investigadores informaram que no instituto as empreiteiras foram responsáveis pelo ingresso de R$ 20,7 milhões de um total de R$ 35 milhões contabilizados. Na LILS, foram R$ 10 milhões. Okamotto, chamado de homem-forte de Lula, teria atuado para ajudar a camuflar pagamentos feitos por empreiteiras.
Com a delação premiada do senador Delcídio Amaral, que foi tornada pública na última quinta-feira, em reportagem da Revista IstoÉ, voltou à cena outra episódio marcante da relação Lula-Okamotto: a suposta atuação direta de Okamotto para silenciar o publicitário Marcos Valério durante o julgamento do Mensalão. De acordo com o senador no depoimento de delação, Lula e o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, em meados de 2006, articularam o pagamento a Marcos Valério, operador do mensalão, para que ele se calasse sobre o mensalão.
O dinheiro, um total de R$ 220 milhões destinados a sanar uma dívida, segundo Delcídio, foi prometido por Paulo Okamotto. Aos procuradores, o senador relatou uma conversa com Lula em que ele o alerta:
– Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte (Okamotto). Corra, Presidente, senão as coisas ficarão piores do que já estão.
O próprio publicitário teria dito à época a autoridades que (petistas) lhe enviavam o "faz-tudo de Lula" para acalmá-lo. Por conta das supostas tratativas com Marcos Valério, Okamotto chegou a ser investigado à época também por ameaça de morte contra o publicitário. A apuração, no entanto, acabou arquivada.
Com 60 anos recém completados, o metalúrgico Okamotto coordenou em 1989 a primeira campanha a presidente do então candidato Lula. Foi presidente do diretório estadual do PT de São Paulo e, em 1990, participou da criação do Instituto Cidadania (posteriormente passou a se chamar Instituto Lula), sendo primeiro responsável pela gestão administrativa da entidade e, depois, seu presidente. Sob sua administração, o instituto lançou projetos sociais que serviram de base para o programa de governo do PT, como os projetos Moradia e Fome Zero. Entre 2005 e 2010, presidiu o Sebrae.