Em uma manifestação simultânea em diversas cidades do Brasil para marcar o Dia Internacional da Mulher, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiu a sede da Yara Fertilizantes, na zona norte da Capital, e pichou os muros da empresa com frases como "assassinos" e "agronegócio mata". Eram centenas de pessoas, a maioria mulheres, que chegaram à companhia por volta das 5h. Elas deixaram o local pela manhã em mais de 20 ônibus para ir até o Incra, na região central, onde ameaçam ficar pelo menos até a quarta-feira.
Muros e paredes da Yara foram danificados, mas nenhum equipamento foi perdido. Havia oito pessoas na companhia no momento da invasão. Elas foram retiradas por saídas de emergência e não tiveram contato com os sem-terra. Câmeras de vigilância registraram a ação, e os atos de vandalismo podem gerar processos contra os responsáveis.
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– Sempre falamos para os seguranças não reagirem numa situação como essa. Eles ficaram neutros e não teve confronto. Pedi, inclusive, para que as armas de fogo fossem guardadas em um cofre – relatou o gerente de produção da Yara, Julio Basta.
O MST escolheu a empresa para simbolizar uma luta nacional contra os agrotóxicos e fertilizantes que, de acordo com o movimento, vão contra a reforma agrária, a principal bandeira dos sem-terra.
– O Brasil é campeão mundial no uso de veneno nas lavouras. Isso expressa o projeto de agricultura defendido por este governo – argumentou a dirigente do MST Salete Carollo.
No Incra, os manifestantes, com apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), bloquearam os acessos ao prédio público e impediram a entrada e saída de funcionários até o começo da reunião com a superintendência do órgão. Revoltados, alguns tentaram furar o bloqueio, e houve discussão.
– Vão trabalhar! Quero pegar o meu carro no estacionamento e não deixam. É uma palhaçada isso – desabafou um servidor, que pediu para não ser identificado.
No final da manhã, houve o acordo para desbloqueio. Porém, os sem-terra permanecem acampados, pois uma nova reunião foi agendada para quarta-feira.
– Eles têm três focos: fomentar créditos para as mulheres e apoiar feiras orgânicas, obter terras para assentamento de novas famílias e barrar o uso de agrotóxicos. Muitas questões são nacionais e repassamos a Brasília a pauta – afirmou o superintendente do Incra no Rio Grande do Sul, Roberto Ramos.
Na pauta do MST, as exigências são variadas: anulação da titulação das áreas de assentamentos; que todas as mulheres assentadas tenham acesso a políticas públicas como o Fomento Mulher e Kit Feira; seminários, estudos e debates sobre o agronegócio e suas formas de atuação em áreas de assentamentos; reconhecimento definitivo e infraestrutura para o assentamento Dom Orlando Dotti, em Esmeralda; criação da Política de Direitos a População Atingida por Barragens (PNAB); e o assentamento das famílias do MAB que vivem no acampamento "Unidos Venceremos", de Lagoa Vermelha.
Em nota, a Yara reforçou que seguirá investindo no Estado:
A Yara Brasil Fertilizantes esclarece que os investimentos realizados em Rio Grande (RS) são parte da estratégia de crescimento de longo prazo da Empresa tanto no Rio Grande do Sul – sede da companhia no País e um dos principais polos agrícolas brasileiros – quanto no Brasil. Desta forma, a Companhia reforça sua intenção de investir cerca de R$ 1 bilhão na unidade de Rio Grande – independente da volatilidade do mercado ou de ações pontuais. O investimento é uma forma a garantir velocidade no atendimento ao cliente, segurança e superior qualidade do produto final – beneficiando o produtor agrícola.
Acompanhe como foi a manifestação: