De volta à suplência de vereadora a partir da tarde desta quinta-feira, Mônica Leal (PP) causou polêmica ao distribuir convites a eleitores para um jantar comemorativo ao "Movimento Cívico Militar de 1964", que será realizado nesta quinta-feira. Filha do coronel do Exército, ex-deputado estadual e ex-vereador Pedro Américo Leal, Mônica diz que apenas participará do ato e nega que esteja organizando a celebração, mas mantém a defesa do regime militar. Em entrevista a ZH, a suplente de vereadora elogia os governos militares, afirmando que eles auxiliaram no desenvolvimento do país, e diz que o golpe de 1964 "foi democrático". Confira abaixo.
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O golpe de 1964, ou o Movimento Cívico Militar, como a senhora chama no convite para o jantar de hoje, inaugurou um período de 21 anos de ditadura no Brasil, que deixou, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, mais de 400 mortos e desaparecidos no país. Por que comemorar a data?
Estamos comemorando porque o movimento defendeu a nação brasileira e os seus valores, que estão entre nós até hoje, desde a colonização até os dias atuais. O evento de 31 de março de 1964 trouxe inúmeras consequências para o Brasil, com reflexos sentidos até hoje pelo cidadão que deseja o crescimento da nação brasileira e que tem como ideário de país os objetivos propostos pelo movimento. Foi uma contrarrevolução, porque estava em andamento um processo lento e gradual de implantação pelo movimento comunista internacional de uma ideologia contrária aos princípios democráticos. Esse movimento contou com a participação dos revolucionários. O movimento contou com apoio da sociedade brasileira e elegeu como presidente o general Castelo Branco em um sufrágio com 361 votos, se não me falha a memória, restaurando os princípios democráticos, restabelecendo a unidade nacional, combatendo a ordem subversiva, a corrupção, e implantando as reformas que permitiram ao país chegar ao fim do governo militar a ser a oitava economia mundial. Aceito divergências, mas vejo dessa forma.
A senhora diz que, no movimento de 1964, a sociedade brasileira reafirmou valores de liberdade, independência e progresso, mas ao longo da ditadura muitas pessoas foram perseguidas e torturadas pelos militares. Como a senhora acha que as famílias de quem sofreu com esse período devem estar se sentindo ao ver uma vereadora promovendo uma comemoração a um golpe?
Não concordo com qualquer tipo de tortura. A Comissão da Verdade foi só para um lado. Pelo que sei, há fatos ali que não estão fechando com a verdade. Já te disse como vejo a questão da comemoração, o que o movimento representou para mim. O movimento de 31 de março se baseou em uma marcha com Deus pela família, pela liberdade. Então, ele foi democrático. Esse movimento defende até hoje a paz, a ordem e a justiça no país.
Mas por que esse recorte da história envolvendo torturas e mortes é relativizado por quem, como a senhora, defende o regime militar?
Ele não é relativizado. É que, como eu pontuei, ele trouxe inúmeras consequências sentidas hoje pelo cidadão, de crescimento da nação. Essa questão da ditadura, eu não aceito, sou contra qualquer tipo de tortura. Vejo a Comissão da Verdade como só para um lado, acho que ela não fez um trabalho como deveria, na minha opinião. Ela deveria fazer para os dois lados. Deveria falar sobre o movimento armado. A comissão foi só para os militares, o que é isso? Eu sou filha de militar, acompanho a história. Essa questão de rotular, tem todo um processo histórico que tem de ser pesquisado antes de rotular alguém de ditador ou algo de golpe.
Em um momento de crise política e de desconfiança da população em relação aos políticos por conta de sucessivos casos de corrupção, celebrar um golpe que mergulhou o Brasil em ditadura não é uma forma de estimular que isso se repita?
Participei de todas as manifestações do povo porto-alegrense que ocorreram nos últimos tempos. Elas foram pacíficas, democráticas, contra a corrupção e por um país livre dos desmandos do PT. Contamos com acompanhamento da Brigada Militar, que sempre foi aplaudida, e o sentimento é o mesmo, todos querem um país mais decente e menos corrupto. A multidão está unida pela mesma causa. Fica cada vez mais claro que há dois tipos de cidadãos: os que servem ao seu país e os que se servem deles. Faço parte da camada de brasileiros que não aguenta mais desvio de dinheiro, de corrupção.
Do seu partido, por exemplo? Integrantes do PP estão envolvidos nas investigações da Operação Lava-Jato.
De qualquer sigla, é importante dizer. Eles têm de ser punidos, ser expulsos do partido. Se for comprovado que cometeram ilegalidades, têm de ser expulsos. Tem de valer a pena ser honesto no país.
A senhora é a favor de uma nova intervenção militar?
Não. Quero um país decente, quero resgatar valores que fizeram parte da história política do Rio Grande do Sul. Da condução com honestidade, do rigor com o dinheiro público. É isso que eu quero. Venho de uma política, de casa, na qual o meu pai ensinou o respeito, a lealdade. Isso tudo faz parte da minha vida. Atuo na política por ideais e quero acreditar que teremos um país diferente.