Proibido de sair de casa pela polícia política do regime cubano enquanto o presidente dos Estados Unidos estiver em Cuba, Rolando Ferrer Espinosa é um dos mais ativos opositores do regime castrista. Já foi preso, em 1999, e condenado a sete anos de prisão – parte da pena foi cumprida em confinamento na solitária.
A história de Rolando é mais curiosa ainda por ser ele um ex-oficial de inteligência do Ministério do Interior cubano. Desde que deixou a prisão, em 2006, tem se dedicado à oposição, mas dentro do limite para que não seja novamente preso.
Leia mais:
De Kennedy a Obama: meio século de contatos secretos entre EUA e Cuba
"Estão fazendo as coisas civilizadamente", diz escritor cubano
Fundou a organização #Otro18, que se empenha na mudança do modelo de eleição em Cuba a partir de 2018, quando Raúl Catro deve deixar a presidência. Além disso, é coordenador nacional da Frente Unida Antitotalitária (Fantu).
A reportagem havia marcado uma entrevista com Rolando, em Havana, neste sábado. O encontro teve de ser desmarcado. O ativista reside em Santa Clara, a 130 quilômetros da capital. A seguir, a entrevista feita, então, por telefone e e-mail.
Por que o senhor não pode sair de casa?
Foi a Polícia Política do regime que não permite a minha saída. Se eu tentar qualquer coisa eles me prendem. Não querem opositores em Havana que podem chegar à comitiva visitante. O governo quer apresentar uma maioria da sociedade civil que não é a verdadeira, que na verdade são apenas os apoiadores governamentais.
Qual é a sua reação à visita do presidente Obama?
É uma visita ao regime comunista dos irmãos Castro, não ao povo cubano. Obama levou tempo, desde antes de 17 de dezembro de 2014 (data do anúncio formal do reatamento das relações diplomáticas) em reuniões às escondidas com o governo ditatorial cubano, sem o conhecimento do povo cubano. Esta visita é obscura nas suas intenções A visita chancela o governo opressor.
O que o senhor acha que vai acontecer depois que Obama for embora?
Se o regime obtiver benefícios econômicos, aumentará a repressão contra os opositores não violentos. Os governistas vão ganhar oxigênio direto em seus pulmões e continuarão enriquecendo. O povo seguirá na mesma miséria.
Mas a reaproximação não mudou em nada a vida do povo cubano?
A proximidade de Cuba e Estados Unidos devia ser uma garantia de boas relações e intercâmbio econômico. Mas os americanos são, segundo os irmãos Castro, os responsáveis por toda a pobreza e os males do nosso país. Foram eles que incluíram no ideário revolucionário apregoado em todas as gerações de cubanos o ódio a tudo o que representam os Estados Unidos.
Como o acesso à internet está rompendo o cerco repressor?
O acesso é precário, mas quem consegue tem contato com a real situação econômica, política e social do mundo, que o governo não oferece. Consegue comparar e começar a compreender que Cuba tem um sistema de governo de baixos princípios, anacrônico e ineficiente. Os cubanos estão cada vez mais interessados na internet para romper com isso.