A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil do governo Dilma Rousseff, confirmada nesta quarta-feira pelo Palácio do Planalto, dividiu opiniões das lideranças políticas da Serra. O prefeito de Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho (PDT) - um dos poucos apoiadores da presidente -, disse que ela "entrou numa fria" e errou, mas desconversou quando questionado se continuaria respaldando a ex-colega de partido.
Claiton Gonçalves (PDT), prefeito de Farroupilha, acredita que Dilma foi forçada pelo PT a aceitar Lula em nome da própria sobrevivência. Já o prefeito de Vacaria, Elói Poltronieri (PT), argumentou que o ex-presidente é "um líder mundial" capaz de acalmar os ânimos no Congresso e retomar o diálogo entre os parlamentares e o governo.
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- Foi uma barbaridade aceitar um ministério para escapar da Operação Lava-Jato em Curitiba. As pessoas erram e acertam na política, desta vez ela (Dilma) errou. Acho que entrou numa fria - analisou Alceu.
O pedetista, que acompanhou a presidente na entrega de apartamentos do Minha Casa, Minha Vida há 11 dias na cidade, vem sendo cobrado por eleitores e simpatizantes da coligação que levou José Ivo Sartori (PMDB) ao Palácio Piratini. Mesmo assim, ele não fala em romper com Dilma:
- Ela está se agarrando no que dá para ficar na presidência. Independentemente de apoio ou não, eu torço para que o país dê certo.
Em pronunciamento à tarde, Dilma defendeu que a nomeação de Lula para a Casa Civil será "um grande ganho" e que ele terá "os poderes necessários" para ajudar o Brasil. Segundo ela, a medida vai "fortalecer" o Palácio do Planalto e auxiliar na estabilidade fiscal e controle da inflação. Porém, para Claiton Gonçalves, o tempo do ex-presidente passou:
- É um grande momento para reunir as lideranças do país e fazer eleições gerais em todos os níveis. É preciso um acordão entre os partidos para uma renúncia ampla. O Brasil não pode esperar muito tempo, o mercado não vai suportar. Vejo essa condução de Lula como um escárnio para a população.
"Vexame" e "argumentos ridículos"
Mesmo com a grave crise política que atinge o país, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), diz estar feliz por presenciar, de acordo com ele, um momento marcante, em que "a moralidade precisa prevalecer".
- Acredito muito na força das instituições. O Brasil vive uma situação ímpar, deferente, difícil. As instituições precisam demonstrar seu real poder para que tenhamos um país sério.
Os dois deputados federais de Caxias têm posições radicalmente antagônicas sobre a volta de Lula ao Planalto, desta vez como ministro. Mauro Pereira (PMDB) classifica o episódio como um dos maiores vexames da política brasileira:
- Depois de o povo ir para a rua pedir a prisão de Lula e a saída de Dilma, ela o coloca na Casa Civil, um dos mais importantes da República. É uma afronta à sociedade, é como dar um tapa na cara do povo.
Por outro lado, Pepe Vargas (PT) afirma que não tem lógica falar que Lula aceitou o ministério para escapar do juiz Sérgio Moro, já que, no STF, a decisão sobre as acusações contra ele não podem ser contestadas em nenhum grau:
- É ridículo esse argumento. Parece que o único juiz honesto do país é o Moro. Pela experiência que tem, Lula pode ajudar a superar a crise política e contribuir para um momento melhor na política e economia. Tenho muito respeito por ele, é o melhor presidente que o Brasil já teve.