Doze policiais federais, entre delegados, escrivães e agentes, foram ao apartamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP), na última sexta-feira, para cumprir mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva na 24ª fase da operação Lava-Jato. O próprio Lula abriu a porta e recebeu os investigadores às 6h da manhã. Vestia abrigo e se preparava para ir à academia. Desejou "bom dia" aos agentes, que buscavam provas sobre o suposto recebimento de vantagens ilícitas de empreiteiras envolvidas no cartel da Petrobras, como a Odebrecht e a OAS.
Um dos delegados comunicou o cumprimento dos mandados. Lula reagiu com humor:
- Mas vocês não trouxeram o japonês da federal?
A referência foi ao agente Newton Ishii, famoso após ter conduzido presos da operação Lava-Jato.
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Lula leu o mandado e ligou para os seus advogados. Demonstrou indignação e definiu a situação como um "absurdo" - ele diria mais tarde que poderia ter sido ouvido, caso recebesse convite, e que a condução coercitiva era desnecessária.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia quis acompanhar o marido até o local do depoimento. Depois, foi convencida a ficar em casa. Entre os argumentos usados por policiais para demovê-la, foi citado o fato de que não se tratava de uma prisão e que a imagem do ex-presidente seria preservada: os agentes estavam sem uniformes da PF e as viaturas eram discretas, sem identificação.
Investigadores que vasculharam o apartamento acreditam ter encontrado "provas cabais" de que Lula é o proprietário real do sítio em Atibaia. Documentos recolhidos para análise dão essa convicção aos policiais. A propriedade, oficialmente em nome de dois sócios de um dos filhos do ex-presidente, foi reformada pela OAS e pela Odebrecht. A Lava-Jato apura se as reformas foram compensações das empresas a Lula por vantagens ilícitas obtidas em contratos da Petrobras.
Os coordenadores da busca na casa do ex-presidente chegaram a São Bernardo do Campo com dois dias de antecedência para preparar a ação e escolher os agentes locais que dariam apoio ao trabalho. Foram 30 minutos no apartamento do petista. O comboio deixou o condomínio às 6h30min e seguiu para o aeroporto de Congonhas. A PF escolheu um local distante da casa do ex-presidente, do Instituto Lula e da sua sede em São Paulo, que poderiam ser mais visados.
O depoimento, que durou mais de três horas, foi tomado no chamado "Salão Presidencial", em um prédio anexo a Congonhas. No cotidiano, é um espaço destinado a receber importantes autoridades que estejam de passagem pelo terminal.