Na guerra pelo poder da droga na Capital, cinco narcotraficantes enraizados em vilas da Zona Norte são apontados em denúncias do Ministério Público como responsáveis por, pelo menos, 25 assassinatos de desafetos nos últimos anos.
São casos em que, apesar da escassez de pistas e do temor de testemunhas em apontar suspeitos, a polícia reuniu indícios suficientes para indiciá-los como homicidas. Condenado duas vezes por tráfico de drogas e uma por assalto, Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, 32 anos, esteve preso até março de 2010. Ao voltar à Vila Jardim, onde mora, estabeleceu uma batalha pelas bocas de fumo. É acusado de envolvimento em pelo menos seis assassinatos e 22 tentativas de homicídio. Desde dezembro de 2014, é considerado foragido e tem contra si cinco ordens de prisão preventiva.
As primeiras vítimas de Jackson foram antigos aliados: os irmãos Darci Devertino da Fé Bugmaer, 46 anos, em setembro de 2014, e César da Fé Bugmaer, 42 anos, dentro do Hospital Cristo Redentor, no mês seguinte. Em dezembro de 2014, em tentativa de matar outro irmão dos Bugmaer, o grupo de Jackson invadiu a tiros uma quadra de esportes no bairro Sarandi, onde havia 60 pessoas. Não encontraram o algoz, mas mataram o comerciante Maurício Wahlbrink, 28 anos, e feriram 12 pessoas sem qualquer ligação com crimes. O verdadeiro alvo, Luis Antônio Rosa da Fé, 35 anos, acabou morto por outro rival em maio de 2015.
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No bairro Bom Jesus, sete homicídios pesam sobre dois expoentes da maior facção da região. Luís Fernando da Silva Soares Junior, o Perneta, 36 anos, é acusado de três mortes. Condenado a 11 anos de cadeia por tráfico, está foragido do regime fechado desde março de 2015, após falha de comunicação entre a Justiça Federal e a Susepe.
Comparsa de Júnior, Márcio de Oliveira Chultz, 35 anos, já foi condenado por dois homicídios e responde a processos por outros dois.
Com pena de 37 anos e oito meses de prisão (até 2038), Chultz também está foragido – escapou em dezembro de albergue em Charqueadas.
Aliado de Perneta, outro foragido do semiaberto, José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, 33 anos, tem condenação até 2030 por tentativa de homicídio e roubo. Está foragido desde janeiro de 2015, e é apontado como o homem que aterroriza o bairro Mario Quintana, acusado de quatro assassinatos.
Após morte de mãe, homem teria assassinado sete
No bairro Sarandi, Fabiano Siqueira Battirola, o Fábio Alemão, 31 anos, decidiu dizimar ex-aliados, em uma vingança pessoal.
Até meados de 2014, Battirola já tinha no currículo dois assassinatos (um em assalto) e uma tentativa de homicídio. Após a morte da mãe, que teria sido alvejada ao protegê-lo, em um bar na Vila São Borja, Alemão iniciou uma caçada aos executores. A partir daí, é apontado por sete mortes e mais duas tentativas não consumadas.
Antes da morte da mãe, as condenações de Battirola já somavam 58 anos de cadeia, até 2063 (por homicídios e tráfico de drogas).
No começo de 2014, a falta de vagas no semiaberto permitiu a ele ficar em casa por quatro meses. Depois, a prisão domiciliar foi revogada, e ele, levado para um albergue, em Gravataí. Lá ficou apenas três meses. Em novembro de 2014, com o assassinato da mãe, começou a perseguir os suspeitos do crime e também amigos deles.
Foram assassinados sete homens, a maioria com tiros de espingarda na cabeça, em um intervalo de quatro meses (entre novembro de 2014 e março de 2015). Em cinco casos, Battirola foi reconhecido. Um dos crimes atribuídos a ele foi gravado por câmeras de segurança na Avenida Francisco Silveira Bitencourt.
Battirola se vangloriava dos seus crimes em conversas via celular. Com o telefone grampeado, acabou capturado dias depois.