O mesmo inquérito que eximiu Leandro Boldrini de responsabilidade no suicídio de Odilaine Uglione escancarou o descaso do médico com a morte da ex-mulher e evidenciou o relacionamento conflituoso do casal, marcado por brigas e casos extraconjugais. As conclusões do inquérito foram divulgadasna manhã desta sexta-feira em Santa Rosa.
Sete testemunhas ouvidas pela Polícia Civil disseram que Boldrini demonstrava desprezo pela morte da ex-mulher, e seis delas afirmaram que ele se referia ao corpo de Odilaine como "presunto" no velório, realizado em Santa Maria. Também causou desconforto que, poucos dias depois, o médico retornou o atendimento na mesma sala onde havia acontecido o suicídio.
– Vocês 'vão' ficar aí com o 'presunto', eu vou sair, eu vou embora, não vou ficar aqui cuidando o 'presunto' – teria dito Boldrini a um amigo do casal, conforme consta no depoimento da testemunha.
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Pessoas que se relacionavam com o casal ainda estranharam o fato de Boldrini ter solicitado o caixão mais simples e nem ter sequer encomendado flores para o enterro da ex-mulher.
– Me vê um caixão de mendigo – teria pedido ele a uma funerária.
O manto que cobriu o corpo de Odilaine no velório não foi adquirido pelo médico – mas comprado pela babá de Bernardo, Nelci de Almeida e Silva.
Há relatos de que Boldrini não chorou ou demonstrou tristeza pela morte. Ao contrário: ele demonstrava alívio e preocupação, de acordo com uma amiga do médico e de Odilaine e testemunha na investigação.
– O que eu vou fazer com esse guri (Bernardo)? Essa cartada não estava no jogo – queixava-se o médico.
Questionado pela polícia se havia se referido ao corpo da ex-mulher com desrespeito, Boldrini disse não se lembrar porque estava em "estado de choque". Ele também afirmou não ser verdade que tenha adquirido o caixão mais simples, mas que comprou "o habitual, o adequado".
Uma amiga da família disse, em depoimento, que, cerca de dois meses depois da morte de Odilaine, Boldrini avisara que havia encontrado uma "mãe para Bernardo" – era Graciele Ugulini, presa acusada de ter participado da morte do menino. Mais de uma testemunha afirma que o casal aparentava bastante intimidade, mesmo com o pouco tempo de relacionamento. Boldrini e Graciele negam e dizem que o namoro só teve início depois da morte de Odilaine.