A pergunta que tanto irritou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no depoimento que prestou à Polícia Federal (PF) em 4 de março, sobre a compra de pedalinhos encontrados no sítio em Atibaia, era uma estratégia dos investigadores para fortalecer a certeza de que Lula é o dono da propriedade.
O fato de adquirir bens e dar o endereço do Sítio Santa Bárbara para recebê-los reforçou as suspeitas da PF. Com outros indícios apurados a partir de apreensões, PF e Ministério Público Federal têm convicção sobre Lula ser o verdadeiro dono da propriedade.
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Os brinquedos em forma de cisne branco, que ficam no lago do sítio, têm os nomes de dois netos do ex-presidente – Pedro e Arthur. Com a análise feita por peritos criminais federais no local e no material apreendido pela Lava-Jato, os investigadores consideram respondidas as dúvidas que envolviam a propriedade. A PF localizou, inclusive, uma minuta de contrato de compra e venda em que consta Lula como comprador do imóvel. O documento não chegou a ser assinado, mas estava guardado no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo.
A investigação também tem elementos que confirmam que Lula e a mulher dele, Marisa, são as pessoas chamadas de "chefe" e de "madame" em mensagens telefônicas de Leo Pinheiro (presidente da OAS) para outro diretor da empresa, em fevereiro de 2014. Eles mencionaram que "a cozinha do chefe está pronta", "marcar com a madame" e "ver se o do Guarujá também está pronto".
São conversas da época em que a empreiteira reformou o sítio e o triplex no Guarujá e também no período em que Lula visitou os dois lugares. Conforme a apuração federal, o ex-presidente visitou 111 vezes o sítio, que foi reformado pelas empresas OAS e Odebrecht. A propriedade pertence nominalmente a Fernando Bittar, sócio de Fábio, filho de Lula, e Jonas Suassuna. Lula admitiu visitas à chácara, mas segue negando que ela lhe pertença.
Na última quinta-feira, foi tornado público o teor de um laudo de perícia criminal federal, feito com base em documentos apreendidos na 24ª fase da Operação Lava-Jato, a Aletheia, e no levantamento feito dentro das dependências do sítio. Em pelo menos seis dependências do sítio foram encontrados pertences do casal, como roupas com os nomes "Presidente" e "Marisa" bordados ou outras peças com dedicatórias a Lula. Nos banheiros foram achados produtos manipulados de higiene e beleza todos com o nome de Marisa. O local também é usado para guardar parte do acervo presidencial de Lula.
Conforme autoridades, não havia no sítio objetos indicando a presença de outras pessoas, como roupas, fotos, ou de que a casa tivesse outro dono além de Lula. Só pertences relacionados ao ex-presidente e sua mulher foram encontrados. Em nota (leia íntegra abaixo) emitida na quinta-feira, o Instituto Lula voltou a contestar a informação de que o sítio é de Lula.
DÚVIDAS QUE ERAM RELACIONADAS AO SÍTIO EM ATIBAIA:
Por que a mulher de Lula, Marisa Letícia, comprou um pequeno barco avaliado em R$ 4 mil, indicando o sítio em Atibaia como local da entrega?
Porque a propriedade é do casal, segundo a investigação.
Por que os pedalinhos do açude do sítio têm, pintados, os nomes de dois netos de Lula.
Porque a propriedade é do casal, segundo a investigação.
Por que parte dos bens pessoais do ex-presidente Lula foram encaminhados ao sítio, após ele deixar a Presidência?
Porque a propriedade é do casal, segundo a investigação.
Mensagens telefônicas de Leo Pinheiro (presidente da OAS) para outro diretor da empresa, em fevereiro de 2014, mencionam que "a cozinha do chefe está pronta", "marcar com a madame", "ver se o do Guarujá também está pronto" e "Fábio ligou desmarcando". Tudo na época em que a empreiteira reformou o sítio de Atibaia e o triplex no Guarujá e também no período em que Lula visitou os dois lugares. O "chefe" e a "madame" são Lula e Marisa?
Sim, a PF tem elementos que indicam que chefe e madame são Lula e Marisa.
Por que Lula guardava em casa uma minuta de contrato de compra e venda do sítio, no valor de R$ 800 mil?
Para autoridades, o documento seria usado para "esquentar" o negócio entre Lula e os antigos proprietários.
NOTA INSTITUTO LULA
A minuta da escritura de compra e venda publicada por Veja somente autoriza uma conclusão oposta àquela publicada pela revista. O documento permite concluir que o ex-presidente Lula cogitou comprar o "Sítio Santa Bárbara", de Atibaia (SP), dos seus reais proprietários, Fernando Bittar e Jonas Suassuna. O ex-Presidente cogitou comprar justamente porque não é o dono do sítio.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva soube que a família de Jacó Bittar e Jonas Suassuna havia comprado o "Sítio Santa Bárbara", em Atibaia (SP)p em 13 de janeiro de 2011. Frequentou o local pela primeira vez em 15 de janeiro de 2011.
O sítio, além de servir para que amigos de longa data pudessem frequentar e conviver, também serviu para receber parte do acervo presidencial entregue ao ex-presidente Lula pela Secretaria da Presidência da República ao final do seu mandato, como foi idealizado por Jacó Bittar _ que é amigo de Lula e companheiro na política há mais de 35 anos.
As reformas que foram feitas no sítio foram realizadas pelos proprietários para adequar as instalações a essas necessidades. Amigos e parentes do ex-presidente Lula acompanharam parte da reforma e auxiliaram no que era possível.
A partir de janeiro de 2011, quando o ex-presidente e seus familiares passaram a frequentar o sítio em dias de descanso juntamente com os proprietários, também houve o auxílio para a manutenção do local.
Esses fatos justificam todos os documentos que foram apreendidos durante a busca e apreensão realizada na residência do ex-presidente Lula e no próprio sítio em Atibaia.
Não se sabe qual o critério usado pela Polícia Federal para afirmar que não há pertences dos proprietários no sítio. De qualquer forma, essa afirmação não muda em nada a propriedade do local, que é atribuída a Fernando Bittar e Jonas Suassuna por título dotado de fé pública.