Diante do agravamento da crise e com uma ala do PMDB querendo romper com o governo, a presidente Dilma Rousseff convidou seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, para ocupar o ministério que cuida da articulação política. A estratégia planejada pelo Palácio do Planalto tem o objetivo de barrar o impeachment e ainda blindar Lula, alvo da Operação Lava-Jato.
Em conversa com 25 senadores do PMDB, do PT e de outros partidos aliados, o ex-presidente admitiu na quarta-feira que o governo está por um fio, mas disse que não assumirá um ministério. Alegou que sua entrada na equipe passaria a imagem de confissão de culpa no caso investigado pela Lava-Jato, mas, mesmo assim, pediu a opinião dos presentes sobre o assunto. O grupo se dividiu.
Leia mais
Presidente do Senado entrega a Lula exemplar da Constituição
Moro autoriza polícia a devolver objetos e documentos de Lula apreendidos
Berzoini, sobre Lula em ministério: "Qual time não gostaria de ter Pelé em campo?"
No Planalto, porém, cresce a pressão para Lula ocupar a Secretaria de Governo, hoje comandada por Ricardo Berzoini, que, nesse caso, seria transferido para outra pasta. O próprio Berzoini é entusiasta da ideia.
– Eu não preciso ser ministro para ajudar o governo – afirmou Lula na quarta-feira, em café da manhã na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
De qualquer forma, para alguns ele prometeu "pensar" no assunto. A Lava-Jato avança cada vez mais sobre Lula, o Planalto e o PT.
– Qual time não gostaria de colocar o Pelé em campo? – perguntou Berzoini, que procura convencer o ex-presidente a voltar atrás e aceitar o convite.
– A bola sempre esteve com ele. Depende de ele querer – afirmou.
Auxiliares de Dilma e parlamentares do PT e do PMDB estão convencidos de que Lula pode ser preso e, para escapar do que chamam de "caçada" do Ministério Público e do juiz Sérgio Moro, precisa ocupar uma cadeira na Esplanada. No comando de um ministério, o ex-presidente ganharia foro privilegiado e seria julgado pelo Supremo Tribunal Federal, e não por Moro, considerado implacável com investigados da Lava-Jato.
Ao comentar na quarta-feira sua condução coercitiva para prestar depoimento à Polícia Federal, na sexta-feira, Lula pediu forte reação dos senadores às "arbitrariedades" cometidas pela Lava-Jato.
– Se eu quisesse, poderia incendiar o país, mas esse não é meu papel. Sou um homem da paz – afirmou ele, de acordo com relatos de três participantes do café na casa de Renan.
À noite, Lula foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo no caso do triplex do Guarujá (SP), que ele nega possuir.
– Já disse um milhão de vezes que esse apartamento não é meu – insistiu o petista.
O ex-presidente almoçou na quarta-feira com Dilma e com os ministros Berzoini e Jaques Wagner (Casa Civil), no Palácio da Alvorada. Voltou a falar da necessidade de uma guinada na política econômica, mas disse ser difícil fazer isso agora porque o governo está "muito frágil".
A maior preocupação é com a ameaça de desembarque do PMDB. Após sair do almoço no Alvorada, na quarta-feira, Wagner foi conversar com o vice Michel Temer, que disse a ele que não deve haver anúncio de rompimento no sábado.
Veja, na íntegra, o pronunciamento de Lula após depor à PF: