Uma mudança estratégica de postura é a explicação dada pelo diretor de Gestão Estratégica da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, tenente-coronel Luiz Dulinski Porto, para a diminuição dos índices de eficiência das polícias.
- Baixaram as prisões totais, mas aumentaram aquelas feitas em flagrante (alta de 3,9% em relação a 2014), pois estamos focando menos em ocorrências de menor potencial ofensivo e mais no crime organizado. Nosso esforço está todo em investigações, operações e prisões em flagrante. Um bom exemplo é a ofensiva contra os desmanches, realizada recentemente. Não adianta abordar carros, mas, sim, acabar com o ciclo do comércio ilegal. E isso vai acontecer cada vez mais - garante Porto.
Quanto ao efetivo da BM - o menor em três décadas - a SSP, embora reconheça a defasagem, acredita estar conseguindo contornar a situação.
- A parte ordinária, essencial, de policiamento ostensivo, não tem sido afetada. Por isso, não acreditamos que a falta de policiais seja algo extremamente relevante - acrescenta Porto.
Reforçando a tese da SSP, o chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, aposta em novas táticas de repressão ao crime. Seguindo o lema de fazer o melhor possível com o que se tem à disposição, Wendt explica que está focado na contenção dos crimes contra o patrimônio - principalmente roubo de veículos - além de reanalisar os procedimentos de combate aos homicídios e intensificar a ofensiva à lavagem de dinheiro. Com essa orientação, diz Wendt, é "plenamente possível" driblar a defasagem de policiais.
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Procurado, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Moreira, não quis comentar o recorde negativo na fiscalização de veículos e a queda no número de prisões realizadas pela corporação.
Como driblar o problema crônico da falta de pessoal
A redução das horas extras e o encolhimento do quadro de servidores têm sido citados exaustivamente por entidades e órgãos ligados à segurança pública na tentativa de explicar a disparada da violência no Estado.
Embora a SSP não considere a falta de policiais "extremamente relevante" para impacto negativo no policiamento, especialistas consideram essencial elevar a presença policial nas ruas para amenizar a sensação de insegurança da população. Com a Brigada Militar amargando a menor tropa em 33 anos e falta de perspectivas para convocação de 2,5 mil aprovados em concurso, a tarefa de contornar o problema crônico da falta de efetivo é complexa.
ZH ouviu especialistas e entidades que representam servidores da área de segurança em busca de soluções possíveis diante da crise atual.
"Tem de colocar mais policiais na rua. Claro que a retaguarda é importante e que precisamos de pessoas fazendo serviços burocráticos, mas aumentar a quantidade de policiais na rua é necessário neste momento. Isso se faz com mapeamento dos desvios de função. Além disso, segurança pública não é só questão de polícia. As prefeituras são importantes para elaborar projetos de prevenção à criminalidade. Segurança pública envolve programas sociais e órgãos de saúde e de educação. Se faz necessário maior integração entre o Ministério Público, judiciário e polícias."
Letícia Maria Schabbach
Professora da UFRGS
"É preciso incentivar quem está na Brigada Militar. Se não houver as promoções internas previstas para abril, por exemplo, muitos policiais vão embora, arrumar outro serviço. Também é preciso planejamento, traçar boas estratégias, o que não se faz hoje. Não há material humano e nem investimento em equipamentos. Os PMs trabalham com viaturas precárias, coletes ruins, sem armamento adequado. Além disso, a BM tem 350 brigadianos em serviços internos que estão loucos e aptos para sair às ruas, e o governo não libera. Isso representa um batalhão inteiro trancado."
Leonel Lucas
Presidente da associação de cabos e soldados da BM
"Não tem como aumentar o efetivo, mas tem como organizar as pessoas para entenderem a sua própria comunidade e promoverem a mudança. É preciso desenvolver ações dentro das escolas e, para isso, os órgãos de segurança têm de conversar, mapear os tipos de violência existentes naquela região. Um sistema de segurança deve integrar-se nas atividades educativas. Isso não tem custo adicional, pois se faz processo de gestão com pessoas que atuam em suas próprias atividades."
Charles Kieling
Professor do curso superior de Tecnologia em Segurança Pública da Universidade Feevale
"Não tem milagre na segurança pública. Não existe isso de fazer mais com menos. Ou investe constantemente, ou o resultado é essa explosão de criminalidade que estamos vendo. Se não repor o efetivo, não tem como melhorar, não tem como trabalhar. Por mais que os policiais se doem, é preciso investir. Não tem outra saída, garanto. Hoje, se tem 5,2 mil policiais civis (o ideal seria 50% a mais) a menos do que se tinha em 1985. Em 1994, por exemplo, eram 6,4 mil."
Isaac Delivan Lopes Ortiz
Presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do RS (Ugeirm)