Há 17 anos, quando resolveu investir em uma vinícola em São Joaquim, o jornalista blumenauense Acari Amorim era um pioneiro. Tendo como base apenas um estudo da Epagri de 1998, que apontava a Serra Catarinense como um bom local para a produção de vinhos finos de altitude, ele se juntou a mais três sócios, pegou parte de suas economias e comprou uma área de 87 hectares, onde hoje se localiza a vinícola Quinta da Neve. O estímulo para investir veio justamente do gosto pela bebida, adquirido com muita experimentação ao longo do tempo.
– Eu sempre fui um grande apreciador de vinhos. Quando surgiu a oportunidade de investimento, não pensei duas vezes – afirma Amorim, hoje presidente da Vinhos de Altitude, associação que congrega os produtores da região Serrana e do Planalto do Contestado.
Passada uma década e meia da largada, o cenário hoje já é bem distinto. Mantendo um ritmo de crescimento constante, a produção vitivinífera já ocupa o segundo lugar entre os setores econômicos mais importantes da microrregião de São Joaquim, com uma produção superior a 1 milhão de garrafas todos os anos. A vitivinicultura superou recentemente a pecuária, mas ainda permanece distante da produção da maçãs, responsável por cerca de 70% do movimento econômico.
– Movimentamos cerca de R$ 200 milhões anualmente e a perspectiva é que passemos ao primeiro lugar, à frente da maçã, dentro de dois ou três anos – conta Amorim.
Espaço para crescer é o que não falta. Mesmo com o país em meio a uma grave crise econômica, o setor vem mantendo uma taxa de crescimento que ronda os 20% ao ano. Hoje, 7 de cada 10 garrafas de vinho consumidas no Brasil vêm da Argentina ou do Chile. A aposta é em uma substituição gradual pelo produto nacional, especialmente em um ambiente hostil às importações, com o dólar na casa dos R$4.
Outro dado ajuda a entender o quanto ainda há para crescer é relativo ao consumo. Hoje, o brasileiro consome, em média, pouco mais de 2 garrafas por ano. Para efeito de comparação, são 36 garrafas per capta na Argentina. No caso da França, esse número se aproxima das 100 garrafas por ano.
Produção em Campo Belo do Sul
Quem também resolveu investir na produção de vinhos finos de altitude foi o médico oftamologista Ernani Garcia. Desde 2009, ele mantém a vinícola Abreu&Garcia na cidade de Campo Belo do Sul, na Serra. A produção ainda é modesta, com cerca de 50 mil litros por ano, mas a expectativa é de expansão no médio prazo. A venda ao público começou apenas em 2011, mas já há uma loja especializada na venda em Florianópolis.
– É uma aposta para o futuro. O vinho deve ser tratado como um alimento. Já está provado por diversas pesquisas que faz bem, ingerido em quantidades adequadas – diz Garcia.