Solto depois de quase três meses de prisão, Delcídio Amaral (PT-MS) transformou o retorno ao Senado, aguardado para os próximos dias, em um xadrez com um objetivo: escapar da cassação.
Ciente de que sua presença no Congresso será um constrangimento, o antigo líder do governo deixará de lado ameaças. Político de trânsito entre as bancadas, pretende adotar um tom conciliador, capaz de viabilizar o corpo a corpo com o qual tentará convencer a Casa de que foi vítima de uma armação.
– Delcídio sabe que ir para o confronto só vai acelerar a cassação. O discurso que ele faria na tribuna subiu no telhado. Ele virá com calma – afiança um petista.
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Nesta segunda-feira, o mal-estar pelo regresso iminente do parlamentar era reconhecido pelos poucos senadores presentes em Brasília. Incomoda a memória do embaraço vivido em 25 de novembro com a prisão do líder do governo, acusado de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Em gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, o petista prometia influenciar o Supremo Tribunal Federal (STF) para permitir a fuga do ex-diretor da Petrobras do Brasil.
– O melhor seria ele não voltar, tirar uma licença. Por onde o senador Delcídio passar, haverá repórteres e curiosos. Vai atrapalhar o funcionamento da Casa – afirma a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM).
A defesa do petista vai insistir que as afirmações na gravação tratavam-se de bravata e que a conversa não ocorreu no exercício do mandato, recado já enviado aos caciques do Senado, que aconselharam Delcídio a voltar na defensiva, preocupados com o dano de imagem à Casa e as críticas de entidades, como a feita pelo novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia.
– O retorno do senador é deboche ao cidadão brasileiro e desrespeito ao próprio parlamento – criticou Lamachia.
Senador avalia licença de 120 dias
Desde sexta-feira, quando o ministro Teori Zavascki encerrou sua temporada no cárcere, Delcídio Amaral (PT-MS) discute com advogados e conselheiros como escapar do processo no Conselho de Ética, que pode cassar o mandato. O desenho da estratégia, a necessidade de exames médicos e as dúvidas sobre o horário em que ele está liberado para trabalhar adiaram a volta ao Senado, prevista para entre segunda e terça-feira.
O parlamentar foi autorizado a cumprir atividades legislativas durante o dia, com recolhimento domiciliar noturno. No entanto, a defesa quer saber com exatidão em que momento ele terá de se recolher, pois é comum que a sessões no Congresso se alonguem pela noite.
– Considero claro que o senador fique até o final das sessões. Se terminar às 23h, encerra e vai para casa – afirma Gilson Dipp, um dos advogados do parlamentar.
Delcídio avalia o pedido de afastamento de até 120 dias. Por ora, seus advogados vislumbram licença mais curta, pois consideram importante a presença do petista na Casa para procurar os demais senadores na tentativa de evitar a cassação. Para Paulo Paim (PT-RS), o constrangimento deve ser do antigo líder do governo.
– Decisão do Supremo a gente cumpre. É o Delcídio quem tem de explicar para cada senador o que aconteceu – diz.
Já a bancada do PT busca acordo para minimizar os danos da situação. Líder do partido, Humberto Costa (PE) falou na sextafeira por telefone com o colega e acertou outra conversa para esta semana, na qual vai explicar a decisão de substituí-lo na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
A interlocutores, Delcídio admite a possibilidade de renunciar ao posto, abrindo espaço para Gleisi Hoffmann (PT-PR). A intenção do parlamentar é evitar pancadaria. Suspenso do PT, ele analisa a possibilidade de se desfiliar, a fim de evitar o desgaste da expulsão e buscar solidariedade na cassação. O caso será avaliado na sexta-feira pelo diretório nacional da legenda.