A empresária Mônica Regina Cunha Moura, mulher do marqueteiro João Santana, ambos presos na Operação Acarajé, 23ª fase da Operação Lava-Jato, declarou à Polícia Federal que em 2011 "foi orientada" a procurar Fernando Miggliacio, então executivo da Odebrecht e apontado pelos investigadores como pagador de propinas da empreiteira no Exterior, para receber parte de valores referentes à campanha da reeleição de Hugo Chávez (morto em 2013) na Venezuela. O dinheiro foi depositado na conta Shellbill Finance, que João Santana abrira em 1998 na Suíça.
Segundo Mônica, a campanha chavista teve "um alto custo", de US$ 35 milhões. Ela admitiu que "grande parte desse valor foi recebida de maneira não contabilizada". A mulher do marqueteiro ainda afirmou que "diante das dificuldades de pagamento" vários doadores efetuavam repasses. Ela definiu Miggliacio como "um executivo da Odebrecht no Brasil que colaboraria no custeio de parte da campanha (de Chávez)".
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Miggliacio foi preso no dia 17 de fevereiro em Genebra tentando fechar contas bancárias. Ele é alvo da Operação Acarajé, cujos investigadores lhe atribuem o controle de empresas offshores relacionadas ao Grupo Odebrecht. Essas offshores teriam sido usadas para pagamentos de valores ilícitos e lavagem de dinheiro. Uma delas seria a Klienfeld.
Segundo Mônica, a partir de 2011 ocorreu a maior movimentação na conta Shellbill Finance. Aquele ano, disse, foi marcado por três grandes campanhas presidenciais: Hugo Chávez (Venezuela), José Eduardo Santos (Angola) e Danilo Medina (República Dominicana).
Mônica declarou à Polícia Federal que foi firmado um "contrato fictício" com a offshore Klienfeld e que "acredita que os valores pagos pela Odebrecht no Exterior alcançam aproximadamente 3 a 4 milhões de reais". Ela negou ter recebido qualquer valor em espécie no Brasil por parte da Odebrecht.
Eleições no Brasil
Mônica também negou que pagamentos realizados tenham qualquer relação com campanhas eleitorais no Brasil. Afirmou, segundo a transcrição do depoimento, que ela e o marido "só atuam no marketing eleitoral e que os principais clientes, no Brasil, são o PT, o PDT e o PMDB".
Ainda de acordo com a transcrição, Mônica disse que "nunca tratou com o empresário Marcelo Odebrech – preso na Lava-Jato desde junho de 2015 – sobre campanhas e pagamentos através da Shellbill Finance ou qualquer outro negócio". No entanto, admitiu que "sempre se encontrou com Fernando Miggliacio em São Paulo, tanto na sede da Odebrecht como em locais públicos".
A mulher do marqueteiro contou que assinou contrato com Miggliacio "relacionado à offshore Klienfeld". Disse, ainda, que "deixou de declarar suas contas no Exterior pois aguardava a promulgação de eventual lei de repatriação de valores, o que retiraria o caráter ilícito da manutenção da conta na Suíça em nome da Shellbil Finance".
*Estadão Conteúdo