Na escola que é o samba, o mestre não precisa de sala. O mais maluco é que muitos não têm quarto nem cozinha, o que dirá sala. Sua parceira, às vezes, vive no mesmo cenário, em um mundo em que tenta encontrar a chave do sucesso. Mas ela é a porta, a porta-bandeira.
A bandeira que carrega é cheia de honra, carrega o brasão de uma luta que, volta e meia, é invisível. A luta de uma comunidade que busca harmonia. Se a harmonia da Avenida ganha aplausos, a da vida nem sempre.
Os jurados fora das quatro linhas são mais severos: sem pena, conduzem o movimento do martelo. Ser negro no Carnaval dá mais chance de ter o que é preciso para sair sorrindo, pois reza a lenda que a pele preta samba melhor. O talento já é presumido, e Xangô cuidará que a justiça seja feita.
Julgamento
Mas quando um negro é julgado fora do mês de fevereiro, as fantasias não contam, a lenda não reza a favor e o machado de Xangô é substituído pelo martelo da capa preta. Apesar de os dois representarem justiça, só um deles está de mãos dadas com ela. A presunção de sucesso que os acompanha no Carnaval é substituída pela presunção da culpa. Com força, um braço forte bate o primeiro surdo, no contra, outro faz o segundo surdo e, assim, encontram o ritmo.
Samba é sonho. Sonhamos com o dia em que o espetáculo do samba seja democrático o suficiente para que, da mesma maneira que a loira brilha com o samba no pé, o negro assine o cheque e banque a festa.
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