O critério da divulgação dos números da criminalidade por parte do governo estadual, nesta segunda-feira, foi muito mais político do que técnico. Fustigada pela verdadeira avalanche de reclamações populares contra a criminalidade que campeia no Estado, a cúpula da Secretaria da Segurança Pública (SSP) resolveu usar uma tática de Relações Públicas: repassou dados que mostram reduções significativas nos percentuais de alguns crimes graves.
Tudo estaria OK e seriam ótimas notícias, não fossem alguns detalhes:
Leia mais:
Estado contraria práticas e divulga dados parciais da criminalidade em janeiro
As polícias pedem e o governo diz que não tem
Leia mais notícias sobra a crise na segurança
- As divulgações acontecem sempre a cada trimestre. Desta vez fugiu ao padrão e foram abertos números de um mês específico, janeiro. Ainda assim, incompletos: apenas até 24 do mês.
- A divulgação foi apenas dos dados positivos referentes aos crimes. E os delitos que tiveram aumento, onde estão os dados?
- Os números divulgados são de percentuais, mas não foram repassados os números absolutos.
A curiosa forma de divulgação autoriza o cidadão a especular. Os números do trimestre outubro/novembro/dezembro de 2015 estarão tão bons quanto os de janeiro de 2016? Se estão, por que não estão disponíveis no site?
- Os números de todo o ano 2015 sobre crimes estão bons? Se estão, por que não divulgá-los? A SSP explica que resolveu mostrar que as ações da BM e da Polícia Civil em janeiro contribuíram para diminuir os delitos. E pode ter razão nisso.
Nas últimas semanas, centenas de PMs têm sido convocados para agir à noite nos pontos de maior mortalidade em Porto Alegre. Até mesmo policiais civis, cuja missão não é patrulhar, têm feito operações semelhantes. É provável que tenha dado resultado. Só que estatística não é feita apenas de boa vontade. Ela engloba números bons e ruins – nunca apenas os bons.