Na década passada, Turney Duff vivia em um triplex que custava US$9.300 ao mês no bairro nova-iorquino do Tribeca. Ele trabalhava de calças jeans e conseguia fazer todo o serviço livre da burocracia que atrapalha boa parte do setor financeiro. Em outras palavras, na área dos Fundos Hedge ele tinha o trabalho mais legal de Wall Street.
- Éramos os caras que viviam nas repúblicas descoladas da universidade - contou Duff, que já não trabalha mais com finanças.
Nos tempos de vacas gordas que antecederam o colapso financeiro, ele e seus colegas ganhavam alguns milhões de dólares ao ano, mas tinham chance de faturar muito mais, talvez até um bilhão de dólares ao ano, se chegassem ao alto escalão da gerência.
- De uma hora para a outra, muita gente falava na casa dos bilhões - afirmou Duff, de 46 anos, que contou seus altos (e baixos) em "The Buy Side", um livro de memórias publicado há dois anos.
The New York Times: ladrões idosos planejam roubo milionário em Londres
Esse número parece ter se tornado menos comum nos dias de hoje, especialmente depois que essa carreira concorrida perdeu um pouco de seu charme. Em outubro de 2015, os fundos hedge sofreram sua pior perda mensal desde a crise de 2008. Vários fundos bem conhecidos fecharam suas portas em 2015, depois de perdas enormes no setor petrolífero e de baixa nos lucros.
O aumento na regulamentação tornou o trabalho "muito complicado", de acordo com o gestor de fundos hedge Gideon King em uma carta aos investidores, antes de abandonar o setor e converter sua empresa em um escritório de investimento familiar, seguindo a tendência criada por George Soros e Stanley F. Druckenmiller.
Mais fundos hedge abriram as portas em 2015 do que fecharam (656 contra 599), de acordo com a Preqin, uma empresa que acompanha as tendências do setor. Porém, os cerca de US$24 bilhões em ativos liquidados mostram que os jovens ambiciosos com tino para os negócios estão em busca de novos ares.
Basta observar os trabalhos escolhidos por alunos recém-formados da Faculdade de Administração de Harvard. O número de jovens que deseja trabalhar para fundos hedge é de 5%, o que se mantém estável há cinco anos, de acordo com Timothy Butler, assessor de carreira e desenvolvimento profissional da faculdade. O número de graduandos que começou a trabalhar no setor de tecnologia subiu para 20%, um nível que não era visto desde os tempos da bolha tecnológica dos anos 90.
- A mídia está cheia de histórias de startups e grandes empresas que estão mudando o mundo - afirmou Butler. - Esse parece ser um caminho extremamente empolgante.
Anthony Scaramucci, diretor da empresa de investimento SkyBridge Capital, notou a tendência. - O que está na moda agora é trabalhar para empresas de internet e mídias sociais, muito mais do que fundos hedge - afirmou.
The New York Times: restaurando uma joia do Rio Hudson
A imagem dos funcionários do setor também não está sendo favorecida por Hollywood. "The Big Short", o novo filme baseado no best-seller publicado em 2010 por Michael Lewis, conta a história de alguns investidores brilhantes, incluindo dois gestores de fundos hedge, que reconheceram a bolha imobiliária antes de todo o mundo.
Interpretados por Steve Carell e Christian Bale, eles acumulam bilhões antes do crédito acabar, mas sua vitória tem gosto amargo. Seu sucesso depende da falência da economia norte-americana, e o diretor do filme, Adam McKay, contrapõe seu triunfo com a imagem de trabalhadores desempregados, mansões vazias e famílias de classe média sendo expulsas de casa.
Os homens estranhos interpretados por Carell e Bale não têm o carisma de Gordon Gekko, o investidor interpretado por Michael Douglas no filme "Wall Street", de 1987. Gekko pode ter sido criado como um vilão, mas ele parecia estar se divertindo muito mais que as pessoas que jogavam de acordo com as regras e acabou servindo de modelo para os jovens que desejavam dinheiro mais do que qualquer coisa.
Damian Lewis interpreta um titã rico e bonito dos fundos hedge na série "Billions", da Showtime. Entretanto, ele é cercado por Paul Giamatti, um promotor distrital com faro aguçado - algo que pode servir de alerta àqueles que desejam seguir esse rumo.
É curioso que o personagem mais legal de "The Big Short", aquele que tem as melhores piadas e os melhores ternos (interpretado por Ryan Gosling) não seja um gestor de fundo hedge, mas um banqueiro de investimentos.
Embora os aventureiros dos fundos hedge se vejam como a vanguarda do mundo das finanças, o público e Hollywood sempre tiveram mais carinho pelos lobos de Wall Street.
- Quando vimos Michael Douglas dizendo que Ganância é bom, as pessoas entenderam o recado - afirmou Bryan Burrough, correspondente da revista Vanity Fair e um dos autores do livro "Barbarians at the Gate" (Bárbaros no portão), quando era repórter do Wall Street Journal.
Os fundos hedge, por outro lado, "são um fenômeno opaco", afirmou Burrough. Ele descobriu isso em primeira mão quando estava fazendo uma reportagem ao lado de Bethany McLean, um artigo de revista sobre Steven A. Cohen, fundador da SAC Capital Advisors - "O maior bilionário dos fundos hedge", nas palavras do artigo.
The New York Times: escritora Barbara Taylor Bradford fala sobre o leilão de parte de suas joias
Cohen não é mais o diretor da SAC Capital. Em 2013, o fundo foi considerado culpado por realizar transações com informações privilegiadas.
Mesmo no auge, os principais responsáveis pelos fundos hedge não atraiam atenção da mídia por conta da vida que viviam, mas por quanto ganhavam de salário. Os bônus multimilionários de Wall Street se converteram pouco a pouco na gratificação de fim de ano de US$175 milhões que Paolo Pellegrini, ex-analista da Paulson & Co., teria recebido em 2007.
Números dessa natureza eram como placas de neon piscando em frente aos olhos de pessoas como Duff, que se divertiu um bocado antes de perder a carreira após duas temporadas de reabilitação. Agora, ele é um dos consultores da série "Billions".
Atualmente, quando conversa com os amigos sobre fundos hedge, muita gente reclama da ascensão das equipes de compliance. As coisas já não são mais como antigamente.
- Eu podia sair toda noite e não precisar pagar nada. Turney quer um helicóptero particular para ir aos Hamptons? Claro. Turney quer passar o fim de semana surfando? Sem problemas - afirmou Duff.
- Sem dúvida, o trabalho se tornou menos sexy de lá pra cá - completou.