A funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, presa na Operação Acarajé, da Polícia Federal, afirmou, em depoimento aos investigadores, que a palavra "acarajé", na correspondência de funcionários da empresa, não significa propina, mas sim uma iguaria baiana. Segundo a PF, e-mails apreendidos na sede da empreiteira mostram que dois executivos, Hilberto Mascarenhas e Roberto Ramos, trocaram mensagens, em 2013, nas quais acionavam a funcionária para entregar "acarajés" nos endereços indicados por eles.
No depoimento, Maria Lúcia, presa em Salvador, declarou que Mascarenhas lhe pedia para providenciar o quitute e não o pagamento de propina. A PF batizou a 23ª fase da Lava-Jato com o nome do bolinho, por entender que o termo, no caso, se refere a valores em espécie que eram entregues a Ramos.
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– Afirma (Maria Lúcia) que se recorda que por vezes Hilberto lhe pedia para providenciar a entrega de porções de acarajé no Rio de Janeiro, em um escritório. As baianas em Salvador vendem pequenas porções para aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse – diz trecho do depoimento.
Para os delegados, a versão de Maria Lúcia é "pouco verossímil" e, conforme as investigações, a funcionária era responsável pelo gerenciamento da "contabilidade paralela" da Odebrecht.
– Os acarajés, em porções de 50, seriam supostamente remetidos de Salvador para o Rio de Janeiro e "chegavam quentinhos", conforme relatado nos e-mails analisados. Registra-se ainda nos e-mails uma menção ao envio de 50 acarajés dos 500, saldo que Roberto Ramos tinha com Hilberto, circunstâncias que desmontam, de pronto, a plausibilidade da versão sustentada por Maria Lúcia – diz a PF.
No depoimento, Maria Lúcia também declarou que era meramente encarregada de fazer relatórios financeiros. A Polícia Federal apreendeu uma planilha na casa da funcionária, que, segundo as investigações, seria responsável pelos pagamentos ao publicitário João Santana. No documento, intitulado Feira-Evento 14, foram identificados sete pagamentos, que totalizam R$ 4 milhões, e fazem referência às palavras "Cid, São e totalmente atendida".
Segundo a PF, os termos Cid e São seriam referências à cidade de São Paulo; a palavra Feira seria o apelido de Santana. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, os advogados de Santana e de sua mulher, Mônica Moura, refirmaram que não receberam dinheiro da Odebrecht no Brasil. A defesa afirma que eles obtiveram recursos da empreiteira no exterior, porque era a única forma de receber pelos serviços prestados nas campanhas eleitorais na Venezuela e em Angola.
Em nota à Agência Brasil, a Odebrecht afirmou que "não tem conhecimento da planilha apresentada pela autoridade policial e não tem como comentar a sua veracidade ou significado".