Nunca antes na história do Rio Grande do Sul se roubaram tantos automóveis. Os ladrões levaram 38.551 veículos em 2015, conforme levantamento divulgado na terça-feira pela Secretaria da Segurança Pública (SSP). O maior crescimento, em relação aos carros, ocorreu no roubo (feito sob ameaça ao motorista): aumentou 31,8% em relação ao ano passado.
O furto (sem violência à pessoa) de veículos cresceu 7,63%. Somados, furtos e roubos de carros ultrapassaram um recorde histórico desde que esse tipo de levantamento é divulgado pela SSP, em 2002. Naquele ano foram levados pelos ladrões 27.157 veículos no Estado. Em 2015, foi registrado pico de 38.551 - quase 7 mil a mais que os 32.722 do ano anterior - alta de 31,8%.
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O número de crimes violentos, em geral, cresceu. Além do roubo de veículos, aumentaram ligeiramente os homicídios dolosos (2,6%), os homicídios de trânsito (20%) e os assaltos (28,3%). Os latrocínios (quando a vítima é morta durante roubo) se estabilizaram. Dois crimes que tiveram redução significativa são extorsão (-8,4%) e extorsão mediante sequestro (-51,3%).
As polícias podem também comemorar a redução da maioria dos delitos não violentos. É o caso do estelionato, cujo registro diminuiu 12,1% em relação a 2014. E furto simples, que caiu 6,7%.
Autoridades reclamam da legislação branda
O chefe da Polícia Civil, delegado Guilherme Wondracek, culpa a "legislação frouxa" pela alta dos crimes violentos. Como exemplo, ressalta que todos os oito assaltantes de banco presos e o que foi morto por policiais civis em enfrentamento ocorrido no fim de semana, em Mormaço (norte do Estado) tinham antecedentes criminais. Dois deles estavam foragidos do regime semiaberto e muitos dos outros cumpriam pena nesse regime - o que não impediu que fossem encontrados com cinco fuzis, diversas pistolas e bananas de dinamite, prontos para explodir agências bancárias.
- As polícias prendem, e o bandido volta às ruas, meses depois. Pronto para roubar
carros, o que vier pela frente - desabafa o delegado.
O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas, concorda com Wondracek. Ele ressalta que todos os dias as polícias prendem e, volta e meia, deparam com os ladrões já soltos. A esperança do oficial para baixar o número recorde de roubo de veículos é a nova Lei de Desmanches, que será aplicada neste semestre.
- Os policiais vivem prendendo quem deveria estar preso. Podem botar mais mil brigadianos que isso não muda, os caras são soltos em seguida. Na tripla missão de prender, encarcerar e recuperar, só a primeira parte é feita. E grande parte dos crimes é cometido por viciados em drogas, outro problema que a sociedade tem de enfrentar - comenta o coronel.
Em novembro de 2015, ZH publicou reportagem alertando que, se fosse mantida a média de roubos de veículos entre janeiro e setembro no Estado, o delito bateria o recorde histórico desde que o levantamento foi iniciado, em 2002. O cálculo indicava que o ano poderia terminar com 37.944 casos, mas a realidade de crise superou a projeção.