Filas e corrida às lojas
Filas de veículos, falta de vagas em estacionamentos de shoppings, mesas disputadas nas praças de alimentação e estoques se esvaziando em ritmo acelerado. Essas são algumas das cenas vistas pelas cidades litorâneas de SC nas últimas semanas, sempre com o sotaque espanhol por trás.
Em alguns casos, o movimento foi tão grande que as metas de vendas em janeiro não apenas foram superadas, mas dobradas, como na Decathlon, que vende artigos esportivos.
- Com certeza esse resultado é por causa dos argentinos, tivemos uma verdadeira invasão. Chegamos até a ter certo medo de que faltasse produtos no estoque, de tão grande que foi a procura, mas felizmente o nosso planejamento permitiu que as coisas funcionassem - comenta José Artigas Cardoso Muslera, um dos gerentes da loja.
Para o cônsul adjunto da Argentina em SC, Otavio La Croce, relatos como este confirmam o recorde de movimentação de argentinos para o Estado e para o Brasil inteiro. Ele ressalta que o cenário já era esperado diante da situação econômica dos dois países e dos desdobramentos das medidas do presidente Mauricio Macri:
- O câmbio favorável e a eliminação de impostos beneficiaram o turismo. E o perfil é o mais variado possível, desde os jovens procurando diversão ou mesmo um emprego temporário até famílias ricas que já conhecem Santa Catarina e voltam agora com essas condições mais favoráveis.
E não é exagero dizer que Florianópolis e Balneário Camboriú, só para ficar nos dois destinos mais procurados por eles aqui, fazem com que muitos não escondam a vontade de trocar o azul e branco pelo verde e amarelo. Uma recente pesquisa feita pelas empresas de consultoria WIN e Gallup International e divulgada pelo jornal argentino La Nacion mostra que o Brasil é o país preferido para onde os hermanos se mudariam se pudessem escolher qualquer lugar no mundo para viver.
Enquanto isso não acontece, o trade turístico agradece a preferência e a boa e velha tradição de fazer a poupança em dólares.
Crescimento de 15% a 20% nas vendas
Um levantamento da Associação Catarinense de Supermercados (Acats) com empresas associadas que têm lojas na região litorânea do Estado indica que a presença de turistas estrangeiros, principalmente argentinos e uruguaios, tem feito a diferença no resultado das vendas. Ainda não se fala em cifras, mas os estabelecimentos já calculam incremente entre 15% e 20% nas vendas.
- Sem a presença dos estrangeiros nas praias o desempenho dos supermercados catarinenses seria igual ao ano passado, na melhor das hipóteses, ou até inferior - destaca o Diretor Executivo da Acats, Antonio Carlos Poletini.
De acordo com a pesquisa da entidade, as categorias de produtos mais consumidas pelos turistas são produtos de padaria e fiambreria, congelados de comidas prontas ou semi prontas, frutas e verduras. A regra é a praticidade, com mercadorias que sirvam bem para refeições rápidas e lanches durante as férias.
Fora das categorias de alimentação, os produtos de higiene pessoal e perfumaria têm a preferência dos estrangeiros. Neste caso, o fator mais importante é o real desvalorizado e o custo-benefício disso para os argentinos, proporcionando compras vantajosas no Brasil para levarem de volta.
Impulsos ao turismo
Três fatores foram fundamentais para aumentar o fluxo de turistas argentinos no Brasil e elevar o poder de compra dos hermanos aqui no país:
Real desvalorizado
O dólar cotado na casa dos R$ 4 (estava em R$ 3,9 ontem à tarde) foi o principal fator para a movimentação histórica de argentinos. Isso porque, historicamente, as reservas financeiras dos hermanos são na moeda norte-americana, em razão dos constantes temores com as crises econômicas e a inflação. Assim, os investimentos em pesos são sempre cautelosos.
Cartão de crédito
O recém-empossado presidente Macri anulou a sobretaxa de 35% nas compras no exterior com cartão de crédito. A medida de controle cambial foi instaurada em 2013 pelo governo de Cristina Kirchner para impedir a fuga de divisas do país e frear a desvalorização do peso. A mudança de Macri visa a abertura da economia argentina.
Controle do dólar
Logo que assumiu, Macri cumpriu uma das promessas de campanha e liberou a compra de dólares na Argentina. Desde 2011 havia controle das despesas em moeda estrangeira, estabelecido pelo governo Kirchner também com a intenção de evitar a fuga de divisas do país. Até dezembro de 2015, havia limites para compras em dólar e quem fosse viajar precisava pedir autorização do governo para adquirir a moeda estrangeira, entre outras restrições.
Comércio aquecido
Com presença recorde e maior poder de compra, argentinos impulsionam a economia de SC no verão
Câmbio favorável e menos restrições favorecem turismo dos hermanos e ajudam a compensar as perdas com a crise brasileira
Victor Pereira
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