Ex-chefe do Ministério Público (MP) da Bahia, o procurador Wellington César Lima e Silva ascende ao cargo de ministro da Justiça com a bênção do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Pouco conhecido na política nacional, o substituto de José Eduardo Cardozo chega a Brasília com fama de diplomático, ponderado e avesso aos embates frontais, no mesmo estilo do habilidoso padrinho.
Vem da Bahia a boa relação de Wellington e Wagner. O novo ministro permaneceu quatro anos (2010-2014) no cargo de procurador-geral de Justiça, durante a gestão do petista como governador. Destacou-se pelo diálogo institucional e por auxiliar na mediação de greves de professores e policiais militares.
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– Ele teve uma atuação destacada, principalmente na greve da Polícia Militar. É um sujeito do diálogo, mas que sabe ser rigoroso quando necessário – descreve o deputado federal Luiz Caetano (PT-BA).
Soteropolitano, 50 anos, Wellington iniciou a carreira no MP em 1991. Promotor nas comarcas de Itagimirim, Tucano e Feira de Santana, foi promovido para Salvador. Na Capital, ganhou espaço na política interna da instituição como assessor especial da cúpula. Também costurou apoio entre petistas, movimento decisivo para se tornar procurador-geral.
Em 2010, Wellington ficou em terceiro na lista tríplice de candidatos ao cargo. Em geral, governadores respeitam a ordem da indicação feita por promotores e procuradores, porém Wagner escolheu Wellington. Em 2012, ao ser reconduzido, liderou com folga a votação.
O nome de Wellington começou a circular no Palácio do Planalto na última semana. A elogiada capacidade de diálogo e o currículo agradaram à presidente Dilma Rousseff, que optou por um nome técnico e sem ranços políticos no Congresso para substituir Cardozo. Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, Wellington é mestre em Ciências Criminais e doutorando em Direito Penal, área em que desenvolveu carreira docente, o que lhe garante contatos no meio jurídico. Na avaliação do governo, tem condições de melhorar as relações com a Procuradoria-Geral da República, Judiciário e Polícia Federal (PF). O promotor de Justiça gaúcho Eugênio Paes Amorim conhece Wellington e elogia a escolha.
– Ele é um cara íntegro. Pelo que conheço dele, essa história de querer controlar a PF não é do seu perfil.
Amigo do novo ministro, o advogado Cezar Bitencourt concorda com a previsão. Ex-colegas na área acadêmica, os dois costumavam jantar nas idas de Bitencourt à Bahia, em restaurantes próximos ao Elevador Lacerda, um dos cartões-postais de Salvador. Nos encontros, Wellington gostava de tomar refrigerante de discutir Direito:
– É um sujeito ilustrado, mas muito simples. Tem condições técnicas de exercer a função de ministro.
Colegas do MP dizem que Wellington tem perfil garantista, apegado ao rigor da legislação. Ele é contrário à espetacularização do Direito Penal, tema de um artigo de 2009 para um boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Em outros debates, o novo ministro criticou a redução da maioridade penal e defendeu a derrocada da PEC 37, que limitaria a atuação do MP.
*Zero Hora