Terceira e última etapa da lei aprovada no final de 2013 e em vigor desde maio de 2014, a venda de maconha em farmácias do Uruguai para uso recreativo terá início neste ano. A garantia é do responsável pela Junta Nacional de Drogas, Juan Andrés Roballo, que assumiu o cargo em 2015 e trabalha diretamente com o presidente Tabaré Vázquez no tema.
Ao todo, 22 empresas participaram do processo licitatório. Apenas duas foram selecionadas: Iccorp, de capital misto, e Simbiosys, de capital uruguaio. Elas plantarão a erva em áreas militares, com vigilância permanente do Estado.
Somente uruguaios e residentes no país, com 18 anos ou mais, poderão comprar o cogollo, como é chamada a flor da cannabis, numa quantia máxima de 40 gramas por mês – 10 gramas por semana. Para isso, eles terão de se cadastrar junto ao governo. As outras etapas da lei já estão funcionando – cultivo pessoal e clubes canábicos. A primeira permite até seis plantas por pessoa, e a segunda determina que podem ser sócios de um clube até 45 membros, que poderão ter 99 plantas. As regras são as mesmas para os futuros compradores.
– O que posso te afirmar é que a cannabis estará nas farmácias neste ano, seguramente, e que o projeto vai funcionar em todas as suas possibilidades no nosso período de governo. Temos uma preocupação de proteger o processo inicial. Estamos estimulando que todo mundo se registre e passe à legalidade – explica Roballo.
Plantadores e clubes canábicos
Segundo ele, há três mil cultivadores de maconha ativos hoje no país, para uma população de aproximadamente 160 mil fumantes. Até agora, três clubes canábicos funcionam plenamente, e 20 esperam regularização. As empresas estão na etapa final de preparação para o cultivo. Na forma natural, são necessários cerca de seis meses para a floração; em estufas "indoor", entre três e quatro meses.
– As condições impostas às companhias foram restritivas e são permanentes. Não podemos fracassar com essa lei. Vamos avaliando passo a passo o que acontece. Não existe vontade política de marchar atrás no projeto. Ele vai funcionar e vai funcionar bem. Se amanhã temos o narcotráfico metido na produção e distribuição oficial da maconha, perdemos – ressalta Juan Andrés Roballo.
De acordo com o presidente da Junta Nacional de Drogas uruguaia, a demora na disponibilização da cannabis nas farmácias ocorre porque foi feito um pente-fino nas empresas concorrentes para descartar qualquer ligação delas com tráfico e lavagem de dinheiro:
– Obviamente que precisamos derrubar medos e preconceitos. Algo que sempre foi ilegal gera medo. É um tema delicado.