Após três horas de reunião com líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio Grande do Sul nesta segunda-feira, na Capital, o senador Paulo Paim não decidiu sobre seu futuro no partido que ajudou a fundar. A expectativa era de que confirmasse a saída, que vem sendo aventada desde o ano passado, mas Paim deixou a decisão para ser tomada junto a apoiadores em Canoas. O encontro, em que vai apresentar as propostas feitas hoje pelos petistas, ocorre ainda nesta tarde.
Uma das razões para que deixasse o PT, conforme explicou o senador antes da reunião, seria o "choque com o governo federal". Paim tem sido um dos mais combativos críticos da política econômica do governo Dilma Rousseff.
– Enfrentamos a ditadura, ajudamos a fortalecer o PT, a CUT e o movimento sindical. Passamos por momentos difíceis e momentos bons, como a eleição do presidente Lula. Neste momento, o que está havendo é uma contradição muito grande entre aquilo que pregamos na última eleição e o que está acontecendo hoje – disse.
Durante o encontro, lideranças como o presidente do PT no Estado, Ary Vanazzi, o ex-governador Olívio Dutra e o ex-deputado Raul Pont, tentaram convencer Paim a mudar de ideia. O senador ouviu os argumentos dos correligionários.
Segundo Vanazzi, a executiva propôs a Paim "estreitar as relações" e assumir as causas do senador envolvendo, por exemplo, a questão racial e a política econômica. Por meio de resolução, o PT gaúcho se posicionaria contra a reforma da previdência e a favor da taxação das grandes fortunas.
– O partido estava longe do senador, e o senador estava longe do partido. Esse ano de conversa ajudou a gente a conhecer melhor nosso papel, a importância que ele tem no Senado para o partido no RS, principalmente no cenário que se avizinha agora no Estado e no país.
Filiado ao PT desde 1985, Paim avalia que os trabalhadores estão acumulando uma série de prejuízos no segundo mandato da presidente Dilma. O principal motivo de atrito entre Paim e o PT foram as medidas provisórias editadas pelo governo Dilma no ano passado, que atingiram direitos dos trabalhadores.
– O que eu mais ouvia era: "está tão descontente? Então, saia". E o PT disse: "não, essa não é a nossa posição. O teu descontentamento também é nosso".
Após o encontro, Paim classificou como "fundamental" o respaldo do PT gaúcho:
– Isso me dá muito mais força e qualidade para fazer o bom combate.
Oriundo do movimento sindical, Paim, que foi deputado federal por quatro mandatos antes de ter sido eleito senador, em 2003, disse que já conversou com mais de 20 partidos.
Presidente de honra do PT gaúcho, Olívio Dutra afirmou que as bandeiras defendidas por Paim são lutas históricas com as quais o partido tem compromisso;
– Quem tem que sair do PT não é o Paim. Quem tem que sair do PT são os que estão descumprindo com essa pauta ou se desviando para outros caminhos condenáveis. Então, a importância do senador é evidente nessa luta.
Confira a nota conjunta, divulgada após a reunião:
Nota conjunta da Executiva Estadual do PT/RS com o Senador Paulo Paim
O Partido dos Trabalhadores do RS em reunião de sua Executiva Estadual com o Senador Paulo Paim entende:
1. Que o conjunto das preocupações pautadas sobre os rumos da política econômica e dos ajustes propostos pelo Governo Federal não correspondem ao programa eleito nas eleições de 2014, posições já expressas no Congresso Estadual do PT/RS.
2. O PT/RS reafirma o compromisso com as causas defendidas pelo Senador Paulo Paim em toda sua militância e nos seus mandatos na Câmara e no Senado, em consonância com os movimentos sociais e sindical tais como, a luta pela igualdade de gênero e racial, os direitos da juventude, pela acessibilidade universal, dos direitos dos trabalhadores aposentados e pensionistas e as demais pautas oriundas das lutas sociais, e tudo que se refere a inclusão com cidadania.
3. Debatemos na reunião o afinamento das relações entre o partido e o mandato, e priorizando os detentores de mandato para as disputas nos pleitos, respeitando o Estatuto Partidário.
O Senador apresentará a síntese do debate da Executiva, em reunião de seu coletivo político a tarde para avaliar as propostas aqui formalizadas.