A barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, pode ter sido rompida por uma mudança do desenho em sua estrutura. De acordo com reportagem veiculada neste sábado no Jornal Nacional, os promotores que investigam o caso concluíram, após análise de fotos de satélite, que, em 2013, a barragem era uma linha reta, mas, com a necessidade de ampliar a capacidade de armazenagem, a estrutura foi ganhando a forma de um "s". O processo é chamado de alteamento.
Segundo o promotor Felipe Faria de Oliveira, do Ministério Público, a mudança no projeto não estava autorizada.
– O alteamento que foi autorizado era pra ser feito de forma retilínea, acompanhando os alteamentos anteriores. Entretanto houve um recuo do eixo da barragem que não foi sequer autorizado ou mesmo comunicado aos órgãos competentes. Essa comunicação tem que ser feita também para que seja acompanhado todos os critérios de segurança das estruturas de barragem – explicou ele à Tv Globo.
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Os investigadores suspeitam que o novo formato era para deixar a área livre de rejeitos e, assim, poder receber água de um outro depósito da Vale.
O engenheiro que projetou a barragem da Samarco, Joaquim Pimenta de Ávila, afirmou que o desvio não foi projetado por ele. O próprio engenheiro afirmou que havia alertado a empresa sobre um princípio de ruptura na margem esquerda da barragem de Fundão, em 2014. A informação foi dada por Pimenta Ávila em depoimento à Polícia Federal e divulgada neste sábado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Após verificar o surgimento de uma trinca em um recuo da barragem, o profissional recomedou que fosse feito o redimensionamento do reforço na estrutura e a instalação de ao menos nove piezômetros – instrumentos para medir a pressão da água no solo e o acompanhamento diário da posição do nível da água.
Após verificar o surgimento de uma trinca em um recuo da barragem, o profissional recomedou que fosse feito o redimensionamento do reforço na estrutura e a instalação de ao menos nove piezômetros – instrumentos para medir a pressão da água no solo e o acompanhamento diário da posição do nível da água.
O engenheiro não soube afirmar se as orientações foram seguidas pela Samarco. O Ministério Público vai investigar se alguma medida foi tomada.
A mineradora declarou que não informou a mudança no desvio porque considera que não houve alteração no eixo do projeto original. O novo formato, segundo a empresa, seria uma situação temporária. Sobre a recomendação do engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, a Samarco afirmou que a auditoria externa teve acesso a todos os dados.
* Zero Hora