A 22ª etapa da Operação Lava-Jato tem alvo com nome e sobrenome: petistas, sobretudo o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Mas mira, de forma oblíqua, um figurão bem mais vistoso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A possível compra de apartamentos de luxo em condomínio controlado pela empreiteira OAS na badalada Praia das Astúrias, em Guarujá (SP), tanto por parte de Vaccari como de Lula, já era investigada pela Justiça Estadual paulista. Agora entrou em campo a Justiça Federal e todo o nutrido efetivo de procuradores e policiais federais a serviço da Lava-Jato.
Por que o condomínio? Porque ele começou a ser construído em 2006 pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), que era presidida por Vaccari Neto. Acontece que a cooperativa enfrentou problemas financeiros e transferiu o empreendimento para a empreiteira OAS em 2009. A Polícia Federal suspeita que a OAS só teria feito porque o então presidente Lula fez um apelo a Léo Pinheiro, presidente da empreiteira, que foi condenado em 2015 pela Justiça Federal, com base nas investigações da Operação Lava Jato.
A OAS também seria uma das que usou offshores (contas no Exterior) para lavar dinheiro oriundo de contratos ilegais. Essa é a outra parte da operação desta quarta-feira: detectar a quem pertencem as contas usadas pela publicitária Nelci Warken (presa nesta manhã). A suspeita é de que seja dinheiro de João Vaccari Neto.
O que pesa contra Lula:
_ Ele teria adquirido em 2005, com a mulher, Marisa Letícia, opção para compra de um apartamento na planta (um triplex no condomínio no Guarujá). Ele deu entrada, via Bancoop, de R$ 47 mil pelo apartamento e teria, posteriormente, desistido da compra. A desistência teria ocorrido em 2014, já depois de ser deflagrada a Lava-Jato. Os procuradores avaliam que o imóvel vale R$ 1,5 milhão.
_ A OAS teria feito inclusive reformas no prédio, a pedido de Lula. Incluindo aí um elevador privativo, para maior privacidade do ex-presidente. O apartamento que seria comprado por Lula é o tríplex 164 A. Nelci Warken, a publicitária presa pela Lava-Jato, consta como proprietária do Triplex 163 B, no mesmo condomínio. Os procuradores da República garantem que ela não tem como bancar um investimento desses e acreditam que é "laranja" de investidores maiores.
O que pesa contra João Vaccari Neto:
_ Vaccari, hoje preso em Curitiba pela Lava-Jato, era presidente da Bancoop quando essa cooperativa começou a construir os apartamentos no Guarujá. A suspeita da Lava-Jato apontam que o condomínio foi usado para a OAS lavar dinheiro oriundo de desvios de contratos da Petrobras e outras estatais.
_ Parte do dinheiro da construção do condomínio no Guarujá teria sido reinvestido em imóveis vendidos a pessoas ligadas ao PT, entre elas João Vaccari Neto. Seria outra forma de contribuir ao partido, além das doações de campanha irregulares (caixa 2) que já levaram à condenação de Vaccari por lavagem de dinheiro. Além da Lava-Jato, Vaccari é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e estelionato por suposto desvio de R$ 70 milhões da Bancoop. O processo é da 5.ª Vara Criminal de São Paulo.