Dentre os 12 imóveis do edifício Solaris, no Guarujá, litoral paulista, classificados como "suspeitos" pelos investigadores da operação Lava-Jato, consta o 133 A, de propriedade de Freud Godoy, antigo segurança, homem de confiança e assessor especial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A posse de Godoy no condomínio, finalizado pela construtora OAS sob condições duvidosas, em substituição à endividada Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), poderá se converter em nova fonte de preocupação ao PT.
Um dos focos da 22ª fase da Lava-Jato, denominada Triplo X, é verificar se Lula é dono de tríplex, reservado a ele pela OAS, no mesmo conjunto de prédios.
Se, no caso de Lula, o tríplex 164 A, que teria sido dele, consta no registro de imóveis como propriedade da OAS, no caso de Freud Godoy não há dúvida. A matrícula obtida pelo Ministério Público Federal indica que o imóvel no edifício Solaris está em seu nome. O que a investigação quer saber, entre outras coisas, é se Lula e Godoy, além da afinidade profissional, também eram vizinhos no Guarujá.
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O ex-assessor trabalhou com o petista desde 1989. Por mais de uma década, atuou como seu guarda-costas. Na disputa vitoriosa de 2002, foi o chefe da segurança da campanha. Chegou a ser fotografado ao lado do ex-presidente em caminhadas matutinas e jogos de futebol.
A partir de 2003, assumiu como assessor especial da Presidência da República. Mas Godoy sempre foi um sujeito de bastidores. Não era um oráculo petista, apenas o "quebra-galho" de Lula. Lideranças e dirigentes do partido consultadas dizem que jamais o conheceram pessoalmente.
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O quase anonimato de Godoy acabou em 2006, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial, quando ele se envolveu na tentativa frustrada de compra de um dossiê falso contra José Serra (PSDB), então candidato ao governo de São Paulo.
Dois homens foram presos com R$ 1,7 milhão, dinheiro que seria utilizado na negociação. Um deles disse, em depoimento à Polícia Federal, que fora contratado pelo PT. Afirmou, ainda, que seu contato no partido era Freud Godoy, então assessor especial de Lula. O ex-presidente o exonerou do cargo e chamou os petistas implicados no caso de "bando de aloprados", definição célebre até hoje vinculada ao escândalo.
Em 2007, ao julgar ação movida pelo PSDB e DEM, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolveu todos os acusados por falta de provas. O homem que delatou o ex-segurança revisou as confissões, recuando nas afirmativas.
Godoy também teve envolvimento em outro notório caso de corrupção: o mensalão. Ele foi investigado depois da revelação de que uma das suas empresas recebeu um cheque de R$ 98,5 mil da agência SMPB, de Marcos Valério, operador do esquema. Em depoimento depois de ser condenado, Valério relatou que o dinheiro teria sido transferido ao ex-segurança para supostamente quitar despesas pessoais de Lula.
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Na ocasião, Godoy negou irregularidades e informou ter usado o dinheiro para sanar as contas da sua família, endividada por falta de pagamento do PT, que havia contratado empresas dele para a prestação de serviços de campanha.
Um petista próximo de Lula avalia que o fato de Freud Godoy ser proprietário de um apartamento no edifício Solaris, que teria sido utilizado pela OAS para pagar propina em forma de patrimônio, não é motivo para dor de cabeça extra. Apesar da preocupação com o fechamento do cerco em torno de Lula, é tratado como natural o fato de pessoas ligadas ao PT terem propriedade no condomínio porque a obra foi iniciada pela Bancoop, que já foi dirigida por petistas como Ricardo Berzoini e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro da sigla que está preso por envolvimento no recolhimento de propinas vindas de contratos da Petrobras.
- O fato de termos vários conhecidos neste condomínio não é nenhuma surpresa. Era um empreendimento da Bancoop, o Berzoini foi fundador. Pelo o que sei, muitos sindicalistas se associaram ao modelo de habitação da cooperativa - diz o petista.