CORREÇÃO: Luciano Ilha não é mais vinculado ao Cpers, informou a assessoria do sindicato. A informação incorreta permaneceu publicada entre 13h46min e 16h32min.
Dois grupos estão por trás do protesto que paralisou Porto Alegre por quase quatro horas na manhã desta segunda-feira: o Fórum das Ocupações Urbanas da Região Metropolitana e o Conselho Regional por Moradia Popular (CRMP). O fórum foi criado em julho de 2014, mas divergências internas provocaram um racha que resultou na criação do conselho, em junho deste ano.
Entre os motivos de discórdia, o projeto das Áreas Especiais de Interesse Social (Aeis) e os valores cobrados pelo escritório de advocacia que responde pela assessoria jurídica do fórum, coordenado por Luciano Ilha. Filiado ao PSol, Juliano Fripp deixou o fórum e criou o CRPM, que hoje reúne 14 ocupações. Nesta segunda-feira, os grupos se uniram, conforme Fripp, "em nome de uma causa maior".
Sobre as declarações do prefeito José Fortunatti, de que o movimento teria interesses político-partidários, Fripp rebateu:
– Fico triste, mas não surpreso. É um movimento político por moradia, por um direito que está lá na constituição – diz ele, que foi candidato a vereador pelo PSol em 2012.
No fim de maio, uma reportagem especial publicada em Zero Hora revelou que existe um mercado por trás das ocupações, com potencial de movimentar milhões com a venda ilegal de lotes – feita inclusive através de anúncios na internet – e contratos com escritórios de advocacia, que chegam a R$ 100 mil em uma única invasão.
A ocupação Bela Vista, que hoje protestou contra um pedido de reintegração de posse, foi a primeira área cuja invasão foi articulada pelo Fórum das Ocupações. Organizado, o grupo – que tem suporte da Defensa Assessoria, dos advogados Paulo René Soares Silva e Rafael Menezes – trabalha com fila de espera e faz a divisão dos lotes com o auxílio de imagens de satélite.
Há exato um ano e quatro meses, mais de 300 famílias em busca de moradia decidiram aterrar uma área alagada no bairro Rubem Berta, na Zona Norte de Porto Alegre, e fixar residência lá. O grupo tenta negociar a compra dos terrenos com o proprietário do local desde o início da ocupação, mas afirmam que ele não mostrou interesse.
Pelo contrário, uma ação de reintegração de posse foi aceita pela Justiça, e o cumprimento da medida deve ser feito até o dia 20 de dezembro. Para protestar contra a retirada das famílias do local, parte do grupo realizou uma manifestação no início da manhã desta segunda-feira. Cerca de 100 pessoas bloquearam as avenidas Mauá e Júlio de Castilhos, no centro da Capital, o que gerou congestionamento. O objetivo da ação era conseguir apoio da prefeitura ao movimento.
Inicialmente chamada de "Fazendinha", a ocupação fica na Estrada Antônio Severino. Atualmente, é chamada de "Bela Vista" e possui casas de madeira e alvenaria, acesso à água e energia elétrica.
Tudo conquistado pelos moradores, conforme a integrante Dorilde Terezinha de Oliveira Madaloz, 45 anos, que vive no local com o marido e o filho, de 20 anos.
– Aqui era uma lagoa, precisávamos andar de bota. Não tinha nada, foi nós que fizemos tudo, até rua – conta a auxiliar de limpeza.
Dorilde diz que não possui cadastro no Departamento Municipal de Habitação (Demhab), assim como outras famílias da ocupação. Segundo ela, o grupo é defendido pelo advogado Paulo René Soares Silva, da Defensa Assessoria.