Foi na década de 70 do século passado que os primeiros entreveros entre taxistas aconteceram na cidade. Era o tempo dos "carros de praça", carros grandes de quatro portas, confortáveis e disponíveis em pontos fixos, onde havia o telefone pelo qual eram chamados os motoristas. Eram as "praças", localizadas nas esquinas mais conhecidas e estratégicas. Até que alguém imaginou um pouco mais de agilidade e criou o táxi-mirim. O fusca pintado de laranja, sem um banco dianteiro para facilitar o acesso no pequeno besouro de duas portas, circulando, à disposição de quem o chamasse por um sinal ou assobio.
Quem tinha outros modelos não gostou daquilo. Era nítida a preferência dos passageiros pela novidade. E a concorrência acentuou o desencontro. Os carros grandes surgiram agrupados em bloqueios aos pequenos fuscas. Lembro-me das madrugadas do Treviso, restaurante que ficava aberto 24 horas no Mercado Público, vizinho do até hoje existente Gambrinu's. Quem saísse de um baile no Clube do Comércio ou viesse da boemia desenfreada, terminava a noite de inverno por ali, para uma canja bem quente ou um picadinho à Maria Luísa. Depois, a volta de táxi para casa. Os carros esperavam estacionados na área. E foi ali que vi alguns conflitos entre motoristas. Os donos dos carros grandes cercavam os táxis menores e não deixavam os mirins trabalharem. Foi longe a dificuldade, vários debates aconteceram, no rádio, na televisão e na Câmara de Vereadores. E as escaramuças das ruas continuavam. O fim da guerra aconteceu aos poucos, quando os velhos carros foram trocados pelos fuscas. Surgiram frotas e cooperativas, locadoras e bem menos avulsos, mudando o modelo da atividade de transportar passageiros seletivamente.
O que agora acontece com o Uber e os convencionais, portanto, não chega a surpreender. A história de Porto Alegre pode ajudar na solução. A caracterização dos táxis pela cor, inscrições e dispositivos de identificação luminosa vieram daquele tempo, quando o fusca virou táxi e os "carros de praça" tentaram impedir a novidade. Com o tempo, tudo se ajeitou.
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